* EPARQUIA DA IGREJA ORTODOXA DA DIASPORA E GRECIA * DOS GENUINOS ORTODOXOS CRISTAOS - GOCs BRASIL

Vida dos Santos

Apresentação
Sucesión del Metropolita Angelos de Avolona
Consagração do Bispo Kyrillos Alves
True Orthodox Christians of Russia
Genuine Orthodox Christian's (GOC's) Church of Hellas
The Autonomous Orthodox Metropolia of North and South America and the British Isles
Calendário Ortodoxo Permanente Multilingue
DOSSIÊ E BIOGRAFIA
1 º Aniversário da União Ortodoxa Verdadeira de três jurisdições
Abril 2012: Histórico Concelebração na Festa de Myron - Portadores
Álbum de Fotos de G.O.C.'s Hellas e Brasil
Santo Sínodo Metropolitano do Patrístico Calendário
Estatuto da Igreja de G.O.C.'s
SODIMA - Seminário Maior de Teologia
Genuína Igreja de Cristo Presbítero Pedro Anacleto
Tradição dos Cabelos e Barbas Longas
Vestimenta Clerical e as 7 Excelencias da Batina
O Hesicasmo: Prática da Oração
Quem Somos Fundação da Eparquia do Ceará
Ritos Litúrgicos
* HERMITAGE * Bispo nomeado Cirilo para o Brasil na TOC - Bulgária
Igrejas Irmãs GOC/TOC
Cristão Ortodoxo (Inglês)
Santos na Igreja Ortodoxa
SYNAXARION: Os Santos de cada dia
Ortodoxia da América para o Mundo
Cânones, Sínodos e Concílios
Doutrina: Símbolos e Regras Cristãs
Nossa História Hoje
Doutrinas Ortodoxa
A Théôsis e Ortodoxia
Justiça Divina
Os Perigos do Ecumenismo
As Heresias do Ecumenismo, Papismo Apostasia
Santo Sínodo Regional Diocesano - D.O.C.S.
O Chamado Sacerdotal
Justiça de Deus e Justiça dos Homens
O Último Elias, O Profeta
Bizâncio: História, Sociedade e Religião
Igreja Ortodoxa Cultura Geral

SANTOS DA IGREJA ORTODOXA NORTE - AMERICANA
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A doutrina e história da igreja ortodoxa: Os Santos.

Nosso nome, ou melhor, nossos nomes revelam muita coisa sobre nós. Muitos nomes têm sido usados através dos séculos para descrever nossa Igreja e seus mais de 250 milhões de adeptos. "Grega", "Oriental", "Ortodoxa", "Una, Santa, Católica e Apostólica", todas são designações apropriadas de nossa Igreja.

Nossa Igreja é denominada "Igreja Grega" porque o grego foi a primeira língua da Igreja Cristã antiga, através da qual nossa Fé foi transmitida. O Novo Testamento foi escrito em grego, e os primitivos escritos dos antigos seguidores de Cristo eram em língua grega. A palavra "grega" não é usada para descrever apenas as pessoas cristãs ortodoxas da Grécia e outros povos de língua grega. Mais propriamente, é usada para descrever os cristãos que se originaram da primitiva Igreja Cristã de língua grega e que se utilizaram do pensamento grego para encontrar representações apropriadas da Fé Ortodoxa.

"Ortodoxa" também é usada para descrever nossa Igreja. A palavra "Ortodoxa" é derivada de duas pequenas palavras gregas: "orthos" que significa correta e "doxa" significando fé ou glorificação. Deste modo, usamos a palavra "Ortodoxa" para indicar nossa convicção de que acreditamos e glorificamos a Deus de forma correta. Damos grande importância à tradição, integridade e fidelidade Apostólica no decurso de uma história de 2.000 anos.

De nossa Igreja também se diz "Igreja Oriental" para distinguí - La das Igrejas do Ocidente. "Oriental" é usado para indicar que no primeiro milênio a influência de nossa Igreja estava concentrada na parte oriental do mundo cristão e para mostrar que um número muito grande de nossos membros é de outra nacionalidade que não a grega. Deste modo, os Cristãos Ortodoxos por todo o mundo usam vários títulos étnicos ou nacionais: "gregos", "russos", "sérvios", "romenos", "ucranianos", "búlgaros", "antioquinos", "albaneses", "cárpato-russos", ou de forma mais abrangente como “Ortodoxos Orientais":

No Credo Niceno de fé nossa Igreja é definida como a "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica": "Una" porque apenas pode haver uma só Igreja verdadeira, com um só chefe que é Cristo. "Santa" porque a Igreja procura santificar e transformar seus membros através dos Sacramentos. "Católica" porque a Igreja é universal e tem membros em todas as partes do mundo. A palavra "Católica" provém da palavra grega "Katholikos" que significa mundial ou universal. "Apostólica" porque sua doutrina está estabelecida sobre os fundamentos colocados pelos Apóstolos, de quem nossa Igreja recebeu seus ensinamentos e autoridade sem ruptura ou mudança.

Todos estes títulos são limitados em certos aspectos, uma vez que descrevem os Cristãos como pertencentes a Igrejas históricas ou regionais particulares da comunhão Ortodoxa. O Cristianismo Ortodoxo não está de modo algum limitado ao Oriente, nem em termos de sua própria auto-definição, ou de localização geográfica. Há muitos Cristãos Ortodoxos que vivem no Ocidente, e estão rapidamente tornando-se completamente integrados espiritual, intelectual e culturalmente à vida ocidental.

Nossas origens e desenvolvimento: conhecer-nos é entender nossa história

O Cristianismo originado na Palestina, difundiu-se rapidamente por todo o Mediterrâneo e, ao final do quarto século, foi reconhecido como a religião oficial do novo Império Romano ou Império Bizantino. Visto no contexto de seu crescimento histórico, foi um movimento religioso unificado, apesar de multiforme em vários aspectos. Foi grandemente vivo e dinâmico em seu desenvolvimento histórico.

O Cristianismo Católico Ortodoxo permaneceu essencialmente indiviso. Seus cinco maiores centros administrativos estavam localizados em Roma, Constantinopla (atualmente Istanbul), Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A definição da doutrina e normas cristãs foi conseguida através dos grandes Concílios Ecumênicos, o primeiro dos quais foi reunido em 325 AD. Todos os líderes e centros de Cristianismo foram representados nestes Concílios e tomaram parte nas deliberações.

O primeiro grande cisma ou separação teve lugar nos séculos quinto e sexto, em virtude principalmente do entendimento a respeito da pessoa de Cristo. Determinadas antigas e veneráveis Igrejas Orientais são completamente semelhantes à Igreja Ortodoxa em caráter, costumes e culto. São de dois tipos, um chamado a Igreja Nestoriana ou Assíria do Oriente, e o outro grupo muito maior, intitulado Pré-Calcedoniano, por causa de sua não aceitação do Concílio de Calcedônia (451 AD). As Igrejas pré-calcedonianas incluem a Igreja Copta do Egito, a Igreja Etíope, a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja de São Tomé na Índia, e a Igreja Siriana Jacobita de Antioquia. Ao todo contam aproximadamente 22 milhões de fiéis.

A religião cristã foi a principal influência no Império Bizantino, moldando sua cultura, leis, arte, arquitetura e vida intelectual. A harmonia entre as esferas civil e eclesiástica, Império e Igreja, raramente foi quebrada, de tal modo a apresentar um Império Cristão verdadeiramente unificado, um universo Cristão. Este relacionamento sinfônico de fé e cultura é um legado distintivo da Igreja Ortodoxa que mais tarde foi transmitido aos povos eslavos da Europa Oriental e Rússia.

Após o Sétimo Concílio Ecumênico em 787 AD, a unidade básica de fé e vida eclesiástica entre Oriente e Ocidente começou a desfazer-se, devido a uma variedade de diferenças teológicas, jurisdicionais, culturais e políticas. Isto finalmente conduziu ao Grande Cisma de 1054 AD, entre Oriente e Ocidente. Esta divisão infeliz foi agravada até ao ponto de uma completa ruptura na comunicação entre a Igreja Ortodoxa e Católica Romana. Séculos mais tarde, os protestos contra Roma na Europa Ocidental deram origem à Reforma Protestante. Em nossos dias, as Igrejas Orientais pré-Calcedonianas, a Igreja Ortodoxa, a Igreja Católica Romana e as várias Igrejas e grupos Protestantes compõem o largo espectro de Cristianismo.

Após o Grande Cisma o Cristianismo Ortodoxo continuou a progredir separado do Cristianismo Ocidental. Obstinadamente conservador, confiando em seu conceito dinâmico de Tradição, preserva as formas clássicas de vida e dogma cristãos até os dias de hoje. É muito mais uma Igreja "popular", estreitamente identificada com a vida nacional e aspirações de seu povo. Em países ortodoxos tradicionais é difícil separar a vida religiosa da secular, uma vez que são uma coisa só nas mentes do povo. A Ortodoxia absorveu e em alguns casos ainda moldou as tradições culturais de muitas nações, principalmente no Oriente Próximo, os Bálcãs e Grécia, Europa Oriental e Rússia. É, para muitas destas nações, a religião nacional. Em outras terras, naturalmente, é um grupo minoritário muito pequeno. De fato, grande número de Cristãos Ortodoxos hoje vive em repúblicas socialistas secularizadas ou oficialmente ateísticas e dão testemunho de sua fé sob condições de ativa perseguição e intolerância. São verdadeiros mártires da fé.

A Igreja Ortodoxa hoje

A Igreja Ortodoxa hoje é uma comunhão de Igrejas autogovernadas, cada uma independente administrativamente da outra, mas unidas pela fé e espiritualidade comuns. Sua unidade fundamental está baseada na identidade de doutrinas, vida sacramental e culta, que distingue o cristianismo ortodoxo. Todos reconhecem a preeminência espiritual do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, que é reconhecido como "primus inter pares", primeiro entre iguais. Todas têm plena comunhão umas com as outras. A tradição viva da Igreja e os princípios de concórdia e harmonia são expressos por meio de parecer comum do episcopado universal assim que as necessidades aparecem. Em todos os outros assuntos, a vida interna de cada Igreja independente é administrada pelos bispos daquela Igreja particular. Conforme o antigo princípio de um só povo de Deus em cada lugar e o sacerdócio universal de todos os crentes, o laicato compartilha igualmente a responsabilidade pela preservação e propagação da Fé e da Igreja cristã.

Além dos quatro antigos Patriarcados de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, com suas várias subdivisões geográficas e eclesiásticas, também há muitas Igrejas Cristãs Ortodoxas independentes ou autocéfalas. Estas incluem as Igrejas da Rússia, Romênia, Sérvia, Bulgária, Grécia; Geórgia, Chipre, Checoslováquia, Polônia, Finlândia, Albânia e Sinai. Igrejas Ortodoxas autônomas menores e missões podem ser encontradas em todos os continentes ao redor do mundo.

A vida Cristã

A vida de um cristão como indivíduo é compreendida no contexto da comunidade de crentes. Cada pessoa é chamada a viver a vida religiosa e a avançar em crescimento espiritual e moral na abundância da própria Vida Divina pela graça.

A Salvação é vista como um processo iniciado no Batismo e continuando até a morte. Os Mandamentos e a Vontade de Deus anunciada são o critério para a conduta ética e elevação espiritual. O objetivo da piedade cristã é a união com Deus, e nossa cooperação com a Divina Graça é necessária para esta união. O empenho e o esforço para viver em Deus envolve uma escalada constante, longe das tentações e ambiguidades de uma condição humana pecadora e corrompida, em direção à glória eterna do Reino de Deus. Esta possibilidade é dada a todos em Jesus Cristo e Sua Igreja. É um esforço místico e ascético diário de obediência e fé em cooperação com a divina graça.

Tradição: a chave para nossa auto-compreensão

A Ortodoxia afirma que as verdades eternas da revelação salvífica de Deus em Jesus Cristo são preservadas na Tradição viva da Igreja sob a direção e inspiração do Espírito Santo. As Sagradas Escrituras são o coração da Tradição e o fundamento da fé. Enquanto a Bíblia é o testemunho escrito da revelação de Deus, a Tradição Sagrada é a experiência completa da Igreja fiel sob a permanente condução e direção do Espírito Santo. Essencialmente, os Cristãos Ortodoxos consideram que suas crenças são muito semelhantes às de outras tradições cristãs, mas que a continuidade e integridade da fé Apostólica incólume transmitida aos Santos têm sido preservadas inalteradas na Igreja Ortodoxa. Esta auto-compreensão da Ortodoxia não a tem impedido de participar ativamente do movimento ecumênico. Há cooperação integral em muitos esforços para afirmar o testemunho Bíblico e Apostólico que estabelece a base sólida para a unidade dos Cristãos em uma só Igreja.

O Credo Niceno: a Fé da Ortodoxia

A Igreja Ortodoxa é profundamente bíblica e patrística. Sua profissão de fé fundamental é o Credo Niceno - Constantinopolitano, que foi universalmente promulgado durante o Segundo Concílio Ecumênico (381 AD). É uma síntese, sumário essencial das verdades salvíficas do Cristianismo, proclamando em forma doxológica o mistério do amor e ação de Deus pelo gênero humano. O Credo Niceno contém os critérios da fé cristã e é considerado um guia para o entendimento da Bíblia. Este Credo é uma declaração autorizada e oficial de fé e o critério infalível da verdadeira Ortodoxia. Proclama um só Deus em três Pessoas -- Pai, Filho e Espírito Santo; a Igreja una, Santa, Católica e Apostólica; um só Batismo para a remissão dos pecados; a Ressurreição dos mortos; e a vida eterna. Nós conhecemos Deus em Trindade através de Suas energias e Seu proceder para conosco na história sagrada, primeiro através do povo judeu e finalmente em Seu Filho Jesus Cristo e Seu Corpo Místico, a Igreja. A Igreja Cristã foi fundada sobre a fé dos Santos Apóstolos e é conduzida e santificada pelo Espírito Santo por todo o sempre. É o "Corpo de Cristo", a comunidade do fiel povo de Deus. É o local histórico do Reino de Deus instaurado que encontrará seu cumprimento definitivo em Deus no final dos tempos.

A Revelação de Deus no culto divino: A Beleza da Ortodoxia

A Revelação de Deus tornou-se plenamente conhecida em Jesus Cristo e está confirmada pelo Espírito Santo em nossa regra de fé. Em Jesus Cristo nós temos "a revelação do mistério que foi ocultado durante muitas gerações, mas está agora revelado e, por meio dos escritos proféticos, tornou-se conhecido a todas as nações" (Romanos 16:25-26). São Santos aqueles que estiveram associados a Cristo durante Sua vida, ou mistica e sacramentalmente unidos com Ele depois.

Primeiramente entre os Santos está a Virgem Maria, também conhecida pelo título doutrinal "Theotokos" -- Mãe de Deus. O evento total de Cristo, que é a Encarnação, Ministério terreno, Morte, Ressurreição e Ascenção em Glória, é um acontecimento histórico que une a eternidade e a criação. Esta compreensão de realismo bíblico é percebida no bem elaborado e altamente simbólico culto da Igreja Ortodoxa. A Páscoa é a "Festa das Festas", repetida anualmente e semanalmente no culto dominical. A Igreja celebra e toma parte no evento da Ressurreição do Senhor em cada Divina Liturgia. Todo momento particular da vida e ministério de Cristo é visto à Luz da Ressurreição. Cada parte do culto da Igreja está intimamente relacionada com a Proclamação e participação neste acontecimento salvíficos.

Cada aspecto de liturgia e prece é compreendido como um esforço com vistas à bela expressão desta realidade. Todos os sentidos são empregados num culto ortodoxo. Todos os meios apropriados são utilizados para revelar em termos humanos o mistério do amor de Deus por nós

A Santidade na Tradição Ortodoxa

Clara Cortazar Goettmann 

«Santo, Santo, Santo o Senhor Deus Sabaoth...»

Cantamos no momento mais solene e essencial da Divina Liturgia, durante a Oração Eucarística. A Igreja não inventou esta aclamação, tão pouco a inventou um homem. (Is 6,3) Isaías a escutou da boca dos Serafins que rodeavam o Trono, e nos transmitiu junto com os detalhes de sua visão.

«No ano da morte do rei Ozias, vi o Senhor sentado em um trono alto e elevado. A orla de seu manto enchia o santuário. Serafins estavam de pé acima dele. Cada um tinha seis asas: com duas cobriam a face, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros: "Santo, santo, santo é o Senhor Sabaoth, e toda terra está cheia de sua glória!»

Os gonzos da porta começaram a tremer à voz daquele que clamava e o templo se enchia de fumaça. Eu disse então: «Ai de mim! Estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de lábios impuros, e meus olhos viram o rei, o Senhor Sabaoth». (Is 6,1-5)

Evidentemente, neste contexto, a palavra “Santo” não designa qualidades “morais” do Senhor Sabaoth. Não quer dizer que Deus é clemente, misericordioso, sábio, justo, providente, grande.... A fumaça, o tremor, o terror que invade o profeta, a consciência repentina de sua pequenez e sua impureza, a sensação de uma morte segura indicam que esta santidade cantada pelos “ardentes”, os serafins, é, em Deus, uma realidade inerente a seu Ser mesmo: aquilo que o faz ser totalmente “Outro”, diferente de todo o universo criado. E esta realidade “discriminadora”, “separadora”, estabelece um abismo entre o Ser de Deus e os outros seres (e daí o terror), mas irradia, não obstante, sobre toda a terra, na Glória.

«A Santidade Divina tem um aspecto 'negativo', imaculado (sem mancha, sem mescla) um aspecto de pureza e purificação». Jacques Goettmann. Teologia do Ano Litúrgico, 1982)

Também tem um aspecto incompreensível, inacessível:

«Deus é infinito e incompreensível e só o que podemos compreender é sua infinitude e sua incompreensibilidade. Deus não tem nada de outros seres, não porque não seja Ser, mas porque está cima de todos os seres, transcendendo o próprio ser». (São João Damasceno – Da Fé Ortodoxa 1,4)

«Deus é temível no conselho dos Santos, terrível para os que O rodeiam. Quem é semelhante ao Senhor nas alturas? Quem é comparável ao Senhor entre os filhos dos deuses?”» Sl 89)

Porém, na glória esta santidade irradia sobre toda a terra e nela Deus se dá a conhecer.

«A Glória designa uma realidade de pesada densidade e irradiação luminosa. Na Glória, Deus manifesta sua Presença». (Jacques Goetmann)

«Sede Santos como Eu sou santo», é um estribilho que ritma as prescrições do Levítico. Deus é o único Santo, mas deseja transmitir esta santidade a seu povo e a cada um de nós.

«Assim como Ele, que os tem chamado, é Santo, assim também vós sede santos». 1Pd 1,15

Todos conhecemos a célebre frase dos Pais da Igreja: «Deus se fez homem para que o homem se faça Deus». Nesta fórmula de extrema simplicidade e concisão está explicitada a vocação do homem: Deus lhe transmite sua santidade, quer dizer, seu próprio ser, e o faz «partícipe da natureza divina, tirando-o da corrupção do mundo.» (2Pd 1, 4).

«A ‘Theosis’, a deificação das criaturas se realizará em sua plenitude no século futuro, depois da Ressurreição do mortos. Contudo, desde agora, é necessário que esta união deificante se efetue, mudando a natureza corrompida e adaptando-a à vida eterna». Vladimir Lossky.

Santo Irineu fala quen «Deus se acostuma ao homem e o homem a Deus», indicando um processo de convivência e mútua adaptação. Deus se acostumou ao homem em Jesus Cristo, Deus e Homem em duas naturezas. E agora o homem pode cooperar, se quiser, para adquirir lentamente a natureza divina e ser ‘homem-deus’ em duas naturezas.

«Um só é santo, um só Senhor, Jesus Cristo, na glória de Deus Pa»” – canta a Igreja antes da comunhão eucarística. O Espírito Santo é a potência de santidade e de santificação, e Ele a comunica à Criação, santificando os homens, consagrando as coisas, os lugares e o espaço. Assim, a santidade é uma qualidade, um atributo exclusivo da Divina Trindade; mas também uma energia, um dom e uma vocação do homem que foi chamado a participar na vida divina, por ser imagem de Deus. Ser santo é ser filho de Deus, viver da vida em Cristo: “Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20) . A santidade é o programa, a vocação do destino humano. Esta vocação esta enraizada em nossas profundidades como um gérmen que deve crescer, como uma semente que deve se desenvolver e que toma pouco a pouco nosso espaço interior. "Desde Pentecostes, o Espírito paira sobre a terra que está inflamada pelo fogo do espírito e irrigada pelos rios de água viva.” (Boris Bobrinskoy, Sainteté, p. 21).

São Serafim de Sarov, no conhecido diálogo com Motovilov, disse que:

«...o objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo... A Oração, o jejum, as vigílias e todas as práticas cristãs, ainda que muito boas em si mesmas, não representam de nenhuma maneira, por si só, o fim de nossa vida cristã. Elas são meios indispensáveis para se chegar a tal fim». (São Serafim de Sarov).

Portanto, as virtudes e as boas obras só são interessantes, na medida em que são meios ou quando são sintomas da vida de Deus em nós. A noção de mérito ou de heroísmo humano é estranha à tradição ortodoxa.

«Não se trata de méritos, mas de uma colaboração, uma sinergia das duas vontades, divina e humana, um acordo na qual a graça se dilata mais e mais. A graça é uma presença de Deus em nós que exige de nossa parte esforços constantes. Certamente, estes esforços, de nenhum modo determinam a graça, nem tão pouco a graça move nossa liberdade como uma força que lhe fora estranha.» (Vladimir Lossky).

«A santidade não consiste em uma vida exemplar, senão em uma resposta adequada ao projeto de Deus para cada um de nós. Trata-se de capturar um sinal de Deus no momento crucial de nossa vida.» (Hèlene Arjakovsky-Klepinin - SOP 287 abril de 2004)

«O homem por si só não pode nada; mas, Deus tão pouco faz algo por si só». (São Macário, Homilia Espiritual 37).

“O Espírito Santo” – disse São Teófano, o Recluso – “atuando em nós, realiza para nós nossa salvação". Um pouco adiante, acrescenta: “[...] e o homem cumpre a obra de sua salvação assistido pela graça”. (Lossky).

A transmissão da santidade provoca, em nós, “separações” “discriminações”. “Tenho manifestado teu Nome aos que me destes, tirando-os do mundo” Disse Jesus ao Pai. (Jn 17,6). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. (Mc 8, 24).

Porque nossa natureza esta ferida pelo pecado e tem o gosto da morte, há que deixar a vida de pecado, até violentamente se for necessário, numa ruptura. “Renunciar ao mundo”, como se disse, implica uma volta do homem sobre si mesmo, uma concentração, uma re-integração do ser espiritual uma opção pela vida em profundidade. A literatura acética nos ensina que nossos esforços, por inúteis que pareçam, são necessários: são uma constante tensão da vontade. É a conversão. E esta tensão não pode manter-se se não deixarmos de lado muitas coisas, boas e ruins, que nos dispersam no mundo exterior e impedem a abertura dos olhos interiores que poderão, finalmente, ver. Existe uma relação entre verdade e santidade.

«Os homens que não são capazes de levar uma vida santa, não são capazes tão pouco de aceitar a verdade cristã. Desde o começo da história da Igreja, sempre esteve presente a mesma regra: a verdade da fé se desvela mais e mais claramente ao homem na medida que este se purifica. Um dos “atletas” espirituais modernos, Teófano – o recluso, confirma por sua própria experiência: ‘A Verdade é clara. Se as paixões não obscurecem nossa razão, a verdade não pode passar despercebida. Por conseqüência, todo desvio da fé deriva do pecado, das paixões.» (Nicolas Velimirovich, Le Messager Orthodoxe 106).

«Purifiquemos nossos sentimentos e veremos o Cristo Resplandecente», dizemos nas Laudes de Páscoa. Sem purificação não há visão.

«O sol dispensa seus raios com a mesma abundância sobre as pedras limpas como sobre as sujas, mas só as pedras limpas refletem os seus raios. Deus também dispensa sua luz divina com a mesma abundância sobre as almas puras como sobre as impuras, mas só as primeiras O refletem». (Nicolas Velimirovich).

Não obstante, este esforço não deve estar dirigido para adquirir a perfeição (num sentido moral), mas, o Espírito Santo; não deve estar dirigido para mim, mas para Ele. A santidade esta arraigada na “hipóstasis”, a pessoa.

[...] «e revela, à verdadeira pessoa, resplandecente em sua beleza original, a pessoa tal como Deus quis ao criá-la, pois Deus deseja que cada um o adore e o ame de maneira única. Essa é a beleza da pessoa: sou único, não haverá nenhum outro como eu. A realização de minha pessoa por humilde que seja, é minha oferenda a Deus, que nada mais pode fazer.» (Lumière du Thabor, citado por Bobrinskoy, op cit).

«'‘Eu’ se converte em hipóstasis quando entra em contato com outros ‘eu’. A hipóstasis não pode subsistir sozinha”. (Monsenhor Jean, Iniciação Trinitária p.63)

«Cada um é um ser à parte; cada pessoa humana é única, é excepcional. Portanto, cada santo conserva sua identidade, sua fisionomia própria. A comunidade dos doze “tinha um só coração e uma só alma”. (At 4,32). Cada apóstolo manifestou sua adesão ao Mestre de maneira particular, na variedade multiforme da vida em Cristo. E cada evangelista nos transmitiu a mensagem do Verbo com uma matiz própria, sem deixar o essencial.» (Metropolita Emilianos).

Por esta razão, os santos são sempre de uma surpreendente originalidade e de uma surpreendente liberdade, Porém esta originalidade, por ser “pessoal”, “hipostática”, é vivida em comunhão com o Outro e com os outros. Paxadoxalmente, “o que quer salvar a sua vida a perderá; e quem perder sua vida por Mim, a salvará. (Mc 8,35).

«Na Igreja Ortodoxa, o homem não é um solitário. Não segue individualmente o caminho da salvação. Membro do Corpo do Salvador, compartilha o destino de seus irmãos em Cristo, se justifica pelos justos, é responsável pelos pecadores. A Igreja Ortodoxa não é um lugar de presença solitária diante de Deus, mas um lugar de comunhão.» (Madre Maria Skobtsov , Le Sacrement du frère)

A Santidade é universal porque é divina; porém, está arraigada profundamente no tempo e no espaço, na história humana concreta, nas circunstâncias da vida. Por isso é importante conhecer a vida dos santos: não para imitá-los servilmente - seria um contra-senso, pois imitando-o aniquilo minha pessoa - mas para aprender deles com que inventiva, com que criatividade, com que diversidade de métodos e de atividades, com que humildade, com que temores e trabalhos “encarnaram” a Vida divina em sua própria vida.

Não há pois fronteira entre eles e nós: os santos estão entre nós. Eles, que chegaram à visão e à intimidade com Deus, intercedem por nós, sejam conhecidos ou não, tenham já nascido no céu ou não: eles são portadores do espírito e impedem que o mundo se desagregue.

«O ata de canonização é um testemunho do Espírito que inspira à Igreja e lhe abre os olhos sobre os portadores do Espírito. Constitui as vezes, uma confirmação eclesial e uma certificação do povo de Deus, confirmação que chega, a seu tempo, segundo o olhar do Espírito... Mas é preciso sublinhar que a canonização não faz um santo, nem decide seu destino eterno. Pela canonização, a Igreja terrena no pretende conferir ao santo parte da glória eterna. Na realidade, trata-se de um ato da Igreja terrena que convida as pessoas a venerar a pessoa canonizada nos marcos e segundo as formas tradicionais de culto público.» (Bobrinskoy).

Para a “canonização” de um santo, ou melhor, na linguagem ortodoxa, para a sua “glorificação”, seguem-se certos passos. Em primeiro lugar, depois de seu nascimento para o céu, inicia-se mais ou menos rapidamente, um estudo de sua vida, seus atos, suas palavras. Em geral, este estudo é levado a cabo por membros da comunidade e pela igreja local a qual pertencia o santo. A perfeita ortodoxia de sua fé deve ser reconhecida por teólogos e hierarcas. Constitui-se assim um pedido que é levado ao Sínodo dos Bispos e ao Patriarca, quando há. Depois de se estudar o caso, e se houver acordo, o Sínodo expede imediatamente um documento, uma Ata de Canonização. Depois de uma breve resenha da vida do santo, ficam fixados os critérios pelas quais se chegou a decisão. Eis aqui o parágrafo essencial de uma dessas atas:

«Decretamos e ordenamos em Sínodo e recomendamos no espírito Santo que o Presbítero Dimitri Klepinin, a Monja Maria Skobtsov, Iuri Skobtsov e Elias Fondaminski, que terminaram suas vidas santamente e como mártires, sejam contados entre os bem aventurados mártires e santos da Igreja, honrados pelos fiéis e celebrados por hinos de louvor a cada ano no dia 20 de julho.» (Ata de canonização do Sínodo da Igreja de Constantinopla).

Imediatamente é fixada a data de sua “glorificação”. Nesse dia, no decorrer de uma sole Liturgia Eucarística com as relíquias presentes, sempre que possível cantam-se pela primeira vez os hinos ou tropários dedicados àqueles santos, sendo expostos seus ícones para a veneração dos fiéis. O nome do novo santo ingressa imediatamente no calendário litúrgico da Igreja. É bom esclarecer que para a Igreja Ortodoxa, o “milagre” não é o único sinal que comprova a santidade de alguém. Quando Paulo enumera os carismas, põe em relevo uma diversidade imensa:

«A um é dada pelo Espírito a palavra de sabedoria. A outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito. A outro, a fé no mesmo Espírito. A outro, o dom de curas no mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, profecia. A outro, discernimento de espíritos. A outro, falar línguas estranhas. A outro, interpretação de línguas. Todas estas coisas as realiza um único e mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer. No presente permanecem estas três: fé, esperança e caridade; delas, porém, a mais excelente é a caridade.» (1Cor 12,8-10; 13,13).

Os Santos servem à Igreja de diversas maneira e, poucas vezes, espetaculares. Há inumeráveis justos que viveram na humildade e a na oração, que entregaram suas vidas em oferenda a Deus para a construção de seu Reino, e que passaram totalmente desapercebidos por seus contemporâneos. Temos um exemplo de um outro santo ortodoxo do século XX, recentemente canonizado: o padre Aléxis Medvedkov, (1867-1934). Nascido na Rússia, foi presbítero de um pequeno povoado na região de São Petersburgo, até que foi detido pelos bolchevistas em 1918. Já estava diante do pelotão de executores quando, por intervenção de amigos, conseguiu se salvar. Conseguiu escapar da Estônia, onde viveu em circunstâncias de total pobreza, trabalhando como mineiro e catequizando. Em 1930 emigrou para a França onde foi recebido pelo Metropolita Eulogio, que o destinou a uma pequena paróquia em Ugine, em Savóia . Passava quase todo o seu tempo rezando na Igreja e cumpria seu ministério com abnegação em condições muito precárias e ante a indiferença de boa parte de seus fiéis. Morreu de câncer em 1934. Quando o cemitério de Ugine foi transferido, em 1956, encontraram seu corpo absolutamente intacto em ornamentos sacerdotais igualmente intactos. Isto foi interpretado como um sinal de santidade, sendo seu corpo transportado para uma cripta da Igreja da Dormição de Nossa Senhora em Santa Genoveva de Bois, perto de Paris.

Há muito mais santos desconhecidos que conhecidos; não canonizados que canonizados. Não são só os canonizados que intercedem por nós, posto que a intercessão não é uma prerrogativa única dos santos, já que os vivos e os mortos intercedem uns pelos outros.

«Muitos santos só são conhecidos por Deus. O Reino de Cristo nos céus estaria, com efeito, cheio de tristeza e muito reduzido se não houvesse muito mais santos além daqueles que têm seus nomes inscritos no calendário litúrgico. Deus não revela ao mundo todos os seus santos, somente aqueles cuja aparição pública se faz necessário para a necessidade da Igreja, da época ou de um povo em particular.» (Nicolas Velimirovich – El Prólogo de Ohrid).

“A Igreja é o Corpo dos Três” – dizia Tertuliano. Na Igreja, a santidade de Deus se manifesta e se encarna. Unidade profunda do céu e da terra revelada por aqueles que o Espírito marcou com seu selo e que o Espírito também nos revela como portadores da imagem de Cristo. Santa Igreja, comunhão de Santos, anúncio do Reino do qual ela é sacramento.

«Sem os santos não há mestres nem pedagogos verdadeiros; tampouco, há ensinamentos verdadeiros sem a santidade. Só o santo é o verdadeiro pedagogo e o mestre; só a santidade é a verdadeira luz. O verdadeiro ensinamento, a verdadeira iluminação, não são apenas a irradiação da santidade. Só os santos são os verdadeiros iluminados. A santidade vive e respira na luz, irradia e atua pela luz. A santidade é a união com Deus segundo a graça, isto é, a união com o Verbo eterno, com o sentido da vida e da existência. Isto é a plenitude da perfeição da pessoa e da existência humana. Esta santidade cheia de carismas é a alma do ensinamento. Pois se o ensinamento não nos revela o sentido eterno da vida, para que serve?» (Pe. Justino Popovich – Le Messager Orthodoxe 106).

«A Ortodoxia é ortodoxia pela santidade. A Santidade é a vida no Espírito Santo e pelo Espírito Santo. Não há ortodoxia fora da santidade, sem a presença do Espírito Santo. No mundo das realidades, a santidade é a medida da autenticidade da Ortodoxia.» (Pe. Justino Popovich – Le Messager Orthodoxe 88).


Fonte:

Goettmann, Clara Cortazar – El Sicomoro: Santos Ortodoxos do Século XX. 2005, pp.3-13

Tradução: Pe. Pavlos, Hiromonge

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