Confissão de Fé contra o ecumenismo
Emitida pela convenção dos clérigos e monges Ortodoxos da
Grécia, abril de 2009
Tradução por Ricardo Williams / Revisão por Fábio L. Lins
Nós que, pela Graça de Deus, recebemos os dogmas da compaixão, e
que em tudo seguimos a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, cremos que:
“Que há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens,
Jesus Cristo homem.” (I Tim. 2:5). Que Jesus é Mediador entre Deus e os homens,
portanto, não é Ele o próprio Deus. Que se o próprio Jesus fosse Deus e igual à
Deus, Ele não estaria numa posição para servir como Mediador; como Mediador,
alguém deve ser a terceira parte; pois caso Cristo sendo Deus ou igual à Deus,
seria uma das duas partes, e não teria condições de ministrar como Mediador
entre os dois - Deus e o homem. (Gál. 3:20). Cremos que Jesus disse:
”E na vossa Lei está também escrito que o testemunho de dois
homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica
também o Pai que me enviou.” (João 8:17-18)
Por dois mil anos, a Igreja, fundada por Cristo e guiada pelo
Espírito Santo, permaneceu firme e inabalável na verdade salvífica que nos foi
ensinada por Cristo, legada aos Apostólos e preservada pelos seus Santos Pais.
Durante seus três primeiros séculos, ela não cedeu sob as perseguições dos
judeus ou dos pagãos; pelo contrário, ela nos deixou uma multidão de mártires e
se fez vitoriosa, provando assim sua origem divina. Conforme nos ensinou São
João Crisóstomo, de maneira tão bela: “Nada é mais forte que a Igreja... se
lutares contra um homem, irás conquistá-lo ou serdes conquistado. Mas se tu
lutares contra a Igreja, não será possível sair-se vitorioso, pois mais forte é
Deus”.
Após o fim das perseguições e seu triunfo sobre seus inimigos
externos – isto é, judeus e pagãos – os inimigos internos da Igreja
multiplicaram-se e fortaleceram-se. Surgiram diversas heresias, mas com um só
objetivo: usurpar ou adulterar a fé que nos foi legada, a fim de confundir os
fiéis e abalar sua confiança no Evangelho e na Tradição Apostólica. Quando São
Basílio Magno descreveu a situação eclesiástica contemporânea criada pela heresia
de Ário, inclusive no âmbito administrativo, ele disse: “Os dogmas dos Pais da
Igreja são ignorados, a tradição apostólica fenece, observam-se nas igrejas as
invenções dos mancebos; as pessoas buscam inovações ao invés de buscarem a
teologia; a sabedoria do mundo parece superar a glória da Cruz. Os pastores são
expulsos, e em seu lugar são colocados lobos que dispersam o rebanho de
Cristo”.
O que ocorreu com os inimigos externos – as religiões – também
ocorreu com os internos – as heresias. Através de suas grandes luminárias, os
Pais da Igreja, ela afirmou e solidificou a fé ortodoxa através das decisões de
sínodos locais e concílios ecumênicos, visando esclarecer certos ensinamentos
dúbios, mas sempre pelo consenso de todos os Pais, em todas as questões de fé.
Portanto, temos plena segurança ao seguir os Santos Pais e respeitarmos os
limites por eles traçados. As expressões “seguir nossos Santos Pais” e
“respeitar os limites que eles traçaram” são um caminho seguro e reto, e uma
“válvula de segurança” para a fé e o modo de vida ortodoxos. Assim sendo,
demonstramos as posições básicas de nossa Confissão:
1) Nós afirmamos, integralmente e sem alteração, tudo aquilo que
os santos sínodos e os pais da Igreja proclamaram. Aceitamos tudo aquilo que
eles aceitaram, e condenamos tudo aquilo que eles condenaram; e também cessamos
relações com aqueles que inovam em matéria de fé. Não adicionamos, removamos ou
alteramos ensinamento algum. Pois o teóforo Santo Inácio de Antioquia já havia
escrito que: “aquele que afirma algo em contrário ao que foi proclamado – mesmo
que seja confiável, mesmo que pratique o jejum, mesmo que seja celibatário,
mesmo que faça milagres – é um lobo em pele de cordeiro, que visa corromper o
rebanho”. São João Crisóstomo, ao interpretar as palavras de São Paulo em
Gálatas I : “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho
além do que já vos pregamos, seja anátema”, ele observa que o Apóstolo “não
disse ‘se tentarem proclamar algo contrário’ ou ‘se tentarem mudar tudo’, mas
que se alguém pregar outro evangelho, por menor que seja a diferença, mesmo que
meramente sugerido, seja anátema”.
Ao anunciar suas resoluções contra os iconoclastas ao clero de
Constantinopla, o VII Concílio Ecumênico afirmou: “seguimos as tradições da
igreja católica, e não omitimos ou nos repetimos mas, sendo educados à moda dos
Apóstolos, guardamos as tradições que nos foram dadas, aceitando e respeitando
tudo que a Igreja recebeu desde seu início, seja oralmente ou por escrito [...]
pois o julgamento legítimo e honesto da Igreja não permite alterações em seu
meio, ou tentativas de subtrair coisa alguma. Nós, portanto, seguindo as leis
de nossos Pais, tendo recebido a graça do Espírito, preservamos de modo correto
todas as coisas da Igreja, sem inovações ou subtrações”.
Juntamente com os Santos Padres e os Sínodos, também rejeitamos e
anatematizamos todas as heresias surgidas durante toda a história da Igreja.
Das velhas heresias que sobrevivem até os dias de hoje, condenamos o arianismo
(que perdura nos testemunhas de Jeová) e o monofisismo – tanto na forma extrema
de Êutiques, quanto nas formas mais moderadas de Dióscoro e Severo de Antioquia
– conforme as decisões do IV Concílio Ecumênico de Calcedônia, os ensinamentos
cristológicos de nossos Santos Pais e Teólogos, como São Máximo o Confessor,
São João Damasceno, São Fócio Magno e nossos ofícios e liturgias.
2) Nós proclamamos que o papismo é o berço das heresias e
falácias. A doutrina do “filioque” – ou seja, que o Espírto Santo procede do
Pai e do Filho – é contrária à tudo aquilo que o próprio Cristo nos ensinou
sobre o Espírito Santo. O consenso dos Pais da Igreja, tanto nos sínodos quanto
individualmente, considera o papismo uma heresia, pois além do filioque ele
gerou uma legião de falácias, como a primazia e a infalibilidade do Papa; uso
de ázimos (hóstia); o purgatório; a imaculada conceição da Theotokos; graça
criada; venda de absolvição (indulgências); entre outros, além de alterar todo
o ensinamento e prática pertinente ao Batismo, Crisma, Eucaristia e demais
sacramentos, além de fazer da igreja uma nação secular.
O papismo contemporâneo produziu desvios nos ensinamentos da
Igreja ainda maiores que o papismo medieval, a ponto de não podermos mais
considerá-lo sucessor da antiga Igreja Latina. Dentre estes erros estão uma
infinidade de exageros em sua “mariologia”, como a doutrina de que a Theotokos
é co-redentora da humanidade; o incentivo ao “Movimento Carismático” de grupos
de orientação “Pentecostal”; além das contínuas inovações à prática litúrgica,
como o uso de danças e instrumentos musicais; além, também, de reduzir – e arruinar
– sua tradição litúrgica.
No campo do ecumenismo, o papismo lançou as bases da
“pan-religiosidade” no “Concílio Vaticano II”, ao reconhecer a
“espiritualidade” dos praticantes de outras religiões. O minimalismo dogmático
levou à depreciação moral à custa do elo entre dogma e moral, resultando na
decadência moral da hierarquia e no aumento de desvios morais tais como
homossexualismo e pedofilia entre o clero. E com seu contínuo apoio ao
uniatismo – uma caricatura proselitista e danosa da Ortodoxia – o Papismo
sabota qualquer tentativa de diálogo e contradiz suas inteções de união
supostamente sinceras.
De modo geral, o Papismo sofreu uma mudança radical após o
“Vaticano II”, voltando-se ao Protestantismo e até mesmo adotando vários
movimentos “espirituais” da “Nova Era”.
Segundo São Simeão de Tessalônica, o Mistagogo, o Papismo causou
mais dano à Igreja do que todas as heresias e cismas juntas. Nós, Ortodoxos,
afirmamos nossa comunhão com os papas do primeiro milênio e celebramos a
memória de muitos papas em nosso calendário santoral. Mas os papas do
“pós-cisma” são hereges; deixaram de ser sucessores da Sé de Roma; e não
possuem mais sucessão apostólica pois perderam sua fé nos Apóstolos e nos Pais
da Igreja. Por esses motivos, com relação aos papas do pós-cisma “não temos
comunhão e afirmamos que é um herege”. Devido à sua blasfêmia contra o Espírito
Santo proclamada com o filioque, eles perderam o Espírito Santo e, portanto,
tudo que vem deles é desprovido de graça. São Simeão também afirma que eles não
possuem sacramentos legítimos: “Estes inovadores se põem longe do Espírito
Santo por suas blasfêmias contra Ele; portanto, tudo o que vem deles é
desprovido de Graça, pois violaram e degradaram a Graça do Espírito ... por
esse motivo o Espírito Santo não se encontra entre eles, e não há nada
espiritual dentre os mesmos, pois tudo que é seu é incipiente, alterado e contrário
à tradição divina”.
3) O mesmo se aplica, com maior intensidade, ao Protestantismo
que, sendo filhote do Papismo, não só herdou muitas de suas heresias como criou
muitas outras: rejeitou a Tradição, aceitando somente a Bíblia (“sola
scriptura”), que ainda assim interpreta de modo distorcido; aboliu o sacerdócio
sacramental, assim como a veneração aos Santos e aos santos ícones; caluniou a
Theotokos; rejeitou o monasticismo; dentre os Sacramentos aceita somente dois –
Batismo e Eucaristia – embora também adultere o ensinamento e a práxis da
Igreja; também ensina a predestinação (no calvinismo) e a justificação somente
pela fé (“sola fide”). Além disso, seus ramos mais “progressistas” introduziram
o ministério feminino e o casamento entre homossexuais – que são aceitos em seu
clero. Mas, acima de tudo, o Protestantismo é desprovido de eclesiologia, pois
a noção de Igreja conforme afirmada pela Ortodoxia lhes é inexistente.
4) A única maneira de restaurar nossa comunhão com os hereges é
através do arrependimento e de sua renúncia a todas as falácias, a fim de que
possa haver união e concórdia verdadeiras; uma união com a Verdade, e não com a
falácia e a heresia. Na recepção de hereges na Igreja, a precisão canônica
(“acribéia”) exige o Batismo. O “batismo” anterior, ministrado fora da Igreja
sem imersão tríplice do neófito em água santificada, ou realizado por um
ministro heterodoxo não é, de modo algum, um Batismo. Tais “batismos” são
desprovidos da Graça do Espírito Santo – que inexiste entre cismáticos e
hereges. Portanto, conforme afirma São Basílio Magno, não temos nada em comum
que nos une: “Sobre aqueles que se separaram da Igreja, estes não mais possuem
a Graça do Espírito Santo sobre si, pois a Graça não é transmitida entre
aqueles que interromperam a sucessão ... aos sacerdotes que se separaram, e
agora são leigos, eles não têm mais autoridade sequer para batizar, ou ordenar
pela imposição de mãos, já que não podem mais transmitir a Graça do Espírito
Santo, da qual se separaram”.
Deste modo, as tentativas dos ecumenistas de criar a ilusão de
que partilhamos de um mesmo batismo com hereges, ou suas afirmações de que é
possível basear a unidade da Igreja nesta “unidade batismal” inexistente é falaciosa
e não se sustenta. Para se tornar membro da Igreja não basta qualquer “batismo”
– é necessário um único e legítimo Batismo, ministrado por sacerdotes que fazem
parte do clero Igreja.
5) Enquanto os hereges teimarem em afirmar suas falácias,
rejeitamos qualquer tipo de comunhão com os mesmos, especialmente a oração em
comum. Os cânones da Igreja proíbem completamente não somente a oração ou
celebração comum em templos, mas também as orações comuns feitas em particular.
Esta posição estrita da Igreja com relação aos hereges se deve à caridade
legítima e preocupação sincera por sua salvação – além do cuidado pastoral para
que seus fiéis não sejam iludidos por heresias. Aquele que ama o próximo revela
a Verdade e não permite que ele fique imerso na mentira; do contrário, esse
qualquer amor ou concórdia seria falso ou hipócrita.
Podemos afirmar que o conceito de boa guerra e paz ruim é
verdadeiro, pois “...uma guerra digna é superior a uma paz que nos separa de
Deus”, diz São Gregório Teólogo. E São João Crisóstomo: “Se virdes devoção
desvirtuada, não prefira a harmonia em detrimento da verdade, mas guardai-a até
a morte...” E também nos recomenda: “Não aceite nenhum falso dogma sob pretexto
de caridade”
Esta posição dos Pais da Igreja também foi adotada por um dos
maiores defensores da Ortodoxia contra os erros dos papistas, São Marcos de
Éfeso, que encerrou sua proclamação de fé em Florença com as seguintes
palavras: “Todos os pais da Igreja, seus sínodos e a sagrada escritura nos
dizem para nos afastarmos daqueles que professam outra fé, e abstermos-nos de
ter comunhão com eles. Devo, portanto, ignorar tudo isso e seguir aqueles que,
sob pretexto de uma paz fabricada, buscam a união? Aqueles que adulteraram a
Profissão de Fé e inovaram ao afirmar que o Filho é e segunda causa do Espírito
Santo? Que isso nunca nos aconteça, ó abençoado Paráclito, e que eu jamais me
desvie do caminho da retidão e que, seguindo Teus ensinamentos e dos Santos que
por Vós foram inspirados, eu possa me juntar a meus pais e levar, no mínimo, a
compaixão”
6) Até o início do século XX, a Igreja manteve uma posição firme
e irredutível de condenação a todas as heresias, conforme expresso claramente
no Synodikon da Ortodoxia, que é proclamado anualmente no Domingo da Ortodoxia.
Heresias e hereges são anatematizados individualmente; além disso, para
garantir que nenhum herege fique de fora da lista, há um anátema geral ao final
do texto que proclama: “Que todos os hereges sejam anátema!”
Infelizmente, esta posição universal e resoluta foi abandonada
gradativamente nas primeiras décadas do século passado, logo após a publicação
da encíclica patriarcal de 1920, “A todas as igrejas de Cristo”, o Patriarcado
Ecumênico, pela primeira vez, caracterizou as heresias como “igrejas” que não
estão alienadas da Igreja, mas que lhe são familiares e com as quais a Igreja
possui relação. Esta mesma encíclica recomenda que “o amor entre as igrejas
deve ser, acima de tudo, reavivado e reforçado; não podemos mais considerar uns
aos outros como estranhos, mas em termos de nossa relação com Cristo, e como
co-participantes e co-recebedores das promessas de Deus em Cristo” (ver I.
Karmiris “The Dogmatic and Symbolic Monuments of the Orthodox Catholic Church”,
vol 2, pg. 958).
Foi, então, aberto o caminho dentro da Igreja Ortodoxa para a
adoção, construção e desenvolvimento de uma invenção Protestante, que hoje
conta com o aval papal: a heresia do ecumenismo. Esta pan-heresia, que aceita e
legitima todas as formas de heresias como “igrejas”, é uma afronta ao dogma da
Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. E este novo dogma, esta nova
eclesiologia, vem sendo desenvolvida, ensinada e impingida por bispos e
patriarcas. Segundo esta nova doutrina, nenhuma Igreja tem direito de tomar
exclusivamente para si a característica de Igreja plena e verdadeira. Ao invés
disso, cada uma constitui uma parte, um fragmento da Igreja, e não sua
plenitude; juntas, todas compõem a Igreja.
Todos os limites traçados pelos Pais da Igreja foram
desconsiderados; não há mais distinção entre a Igreja e as heresias, entre
Verdade e falácia. Agora, as heresias são chamadas de “igrejas” – e muitas
delas, como o papismo, agora são consideradas “igrejas irmãs”, às quais Deus
confiou, juntamente conosco, a salvação da humanidade.
Agora a Graça do Espírito Santo também existe em meio às
heresias e, portanto, seus “batismos” – assim como todos os seus “sacramentos”
– são considerados “válidos”. Todos que foram batizados, seja onde for, agora
são considerados membros do Corpo de Cristo, a Igreja. As condenações e anátemas
dos Sínodos foram consideradas inválidas, e deveriam ser retiradas dos livros
litúrgicos. Acima de tudo, agora estamos alojados no “Conselho Mundial das
Igrejas” o que constitui, em essência – mesmo com a mera participação – traição
à nossa consciência eclesiástica. Ignoramos o dogma da Igreja Una, Santa,
Católica e Apostólica – o dogma de “um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”.
7) Este sincretismo inter-cristão tornou-se, hoje, um
sincretismo inter-religioso, que iguala todas as religiões à genuína reverência
a Deus, ao conhecimento de Deus e modo de vida cristão, que nos foi revelado
por Deus através de Cristo. Conseqüentemente, não apenas o dogma eclesiástico
da relação da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica com as heresias é atacado,
mas também o dogma fundamental de uma única Revelação e da salvação do homem
através de Jesus Cristo. E esta é a pior das falácias, a maior de todas as
heresias.
8) Nós cremos e confessamos que somente em Cristo existe a
possibilidade da Salvação. Todas as religiões e heresias do mundo levam à
perdição. A Igreja Ortodoxa não é meramente a Igreja verdadeira – ela é a única
Igreja. Ela, e somente ela, permaneceu fiel ao Evangelho, aos Concílios e aos
Pais da Igreja e, portanto, somente nela subsiste a legítima Igreja católica de
Cristo. De acordo com São Justino Popovich, ecumenismo é o denominador comum
das pseudo-igrejas da Europa Ocidental; seu nome, na verdade, é “pan-heresia”.
Esta pan-heresia tem sido aceita por inúmeros patriarcas,
arcebispos, bispos, monges, membros do clero e leigos. Eles a apóiam
desavergonhadamente; eles a impõem na prática, estabelecendo comunhão com
hereges de todos os modos possíveis: com orações comuns, com visitas mútuas,
com colaboração pastoral, excluindo-se, assim da comunhão da Igreja. Nossa
postura, de acordo com as decisões canônicas da Igreja e o exemplo dos Santos,
é óbvia: cada um de nós deve assumir suas responsabilidades.
9) Também há, é claro, responsabilidades coletivas –
principalmente na consciência ecumenista de nossos hierarcas e teólogos, com
relação ao corpus Ortodoxo e – e individuais, para com seus rebanhos. A eles,
declaramos com temor a Deus e amor que sua posição receptiva a todas as
atividades ecumenistas são condenáveis em todos os aspectos, porque:
- na prática, constituem uma traição a nossa Fé e Tradição
Patrística Ortodoxa;
- semeam dúvidas nos corações dos fiéis e perturbam muitos
deles, além de ser causa de divisões e cismas;
- elas enganam parte de nosso rebanho Ortodoxo com falácias e,
conseqüentemente, desastre espiritual.
Dessa forma declaramos, pelas razões expostas acima, que aqueles
que estão agindo com irresponsabilidade ecumenista, seja qual for a posição que
possuírem dentro da Igreja, estão se opondo à tradição de nossos Santos – e, dessa
forma, aos próprios Santos.
Por esse motivo, a posição ecumenista deve ser condenada e
rejeitada pela totalidade dos hierarcas e fiéis.
A Heresia Papista
A Igreja Ortodoxa foi rápida ao rejeitar a heresia do filioque e
as inovações litúrgicas da Igreja de Romana, mas foi lenta para entender a
heresia eclesiológica implícita nas reivindicações do papa. Isso fez com que
aparecesse uma nova visão nas relações entre a verdade e a autoridade na
Igreja. Ao invés da visão Oriental de que a autoridade é baseada na verdade,
que por sua vez é expressa pela Tradição Apostólica, os papas começaram a
ensinar que a verdade era guardada unicamente pela autoridade do papa.
Este ensinamento novo foi claramente expressado no I Concílio de
Laterão, de 1076: “Apenas um papa pode julgar um papa, a Igreja Romana nunca
errou e jamais errará até o fim dos tempos, apenas a Igreja Romana foi fundada
por Cristo, apenas o papa pode depor e restaurar bispos; apenas o papa pode
convocar concílios gerais e autorizar leis canônicas; apenas o papa pode
revisar seus próprios julgamentos; apenas o papa pode usar a insígnia imperial,
apenas o papa pode depor imperadores, apenas o papa pode absolver os sujeitos a
sua aliança, todos os príncipes devem beijar os seus pés; ele pode absolver
ordens, pois tem precedência sobre todos os outros bispos; o apelo à corte
papal inibe o julgamento de todas as cortes inferiores; um papa ordenado
canonicamente torna-se indubitavelmente santo pelos méritos de São Pedro.”
Foram as Cruzadas no século XI que abriram os olhos dos fiéis
sobre a verdadeira natureza do monstro nascido em seu meio. E então ficou
imperativo que era necessário expulsar tal ensinamento que era de fato uma
escancarada idolatria ao homem, conforme o aviso do Senhor à Igreja da Tiatira:
“Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz
profetisa; ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das
coisas sacrificadas a ídolos; e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela
não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a lanço num leito de dores,
e numa grande tribulação os que cometem adultério com ela, se não se
arrependerem das obras dela; e ferirei de morte a seus filhos, e todas as
igrejas saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os corações; e
darei a cada um de vós segundo as suas obras.” (Revelação 2,20-23).
Já antes da I Cruzada, o espetáculo inimaginável das guerras
entre as nações que se consideravam cristãs era comum. Como durante 886-1018,
quando os gregos lutaram contra os búlgaros; em 1043 os russos atacaram
Constantinopla, e entre 1066 e 1081 os normandos conquistaram a Inglaterra, o
sul da Itália e invadiram a Grécia.
Felizmente, no Oriente uma mesma religião e um respeito comum ao
ideal de Império Cristão impediu que as cicatrizes fossem muito grandes. Pois
quando os búlgaros ou sérvios guerrearam contra o Império, eles não tentaram
destruí-lo, mas sim substituir o imperador grego por um sérvio ou búlgaro. A
Tsarigrad – “a cidade do rei” – permanecia inabalável como centro espiritual e
político da cristandade Oriental. No Ocidente, porém, a conquista normanda da
Inglaterra, motivada tanto por motivos políticos como religiosos e sociais, e
abençoada pelo papa, deixou profundas cicatrizes no caráter lingüístico da
Inglaterra, e fundamentou a hostilidade que existiu por séculos entre
Inglaterra e França. E quando o Ocidente como um todo atacou os cristãos do
Oriente durante as Cruzadas, os planos idealistas de recuperar a Terra Santa
sob domínio maometano logo se degenerou no desejo dos reis por terras e
espólios, e por parte do papa – no sonho de derrotar a “Roma cismática”.
A única nação ortodoxa beneficiada pelas Cruzadas foi à Geórgia,
cuja população liderada pelo Rei Davi o Restaurador foi recuperada dos
sarracenos, quando os cruzados libertaram suas terras do domínio maometano. Mas
as antigas Igrejas autocéfalas de Jerusalém, Antioquia e Chipre apenas trocaram
um domínio por outro, por outro ainda mais ávido e intolerante. Este processo
atingiu o seu ápice sangrento em 1204, quando os cruzados saquearam
Constantinopla, profanaram o santuário de Hagia Sofia e instauraram um rei e um
patriarca latino...
A honra de ser o primeiro ocidental a condenar a Jezabel do
papado romano pertenceu ao bispo Etelvino de Durham, do norte da Inglaterra,
que anatematizou o papa solenemente em 1070, após testemunhar com seus próprios
olhos os terríveis frutos do papismo em sua terra. Pouco depois, muitos
refugiados ingleses começaram a chegar em Constantinopla e Kiev (a filha do
último rei ortodoxo da Inglaterra, Haroldo, se casou com o Grão-Príncipe
Vladimir Monomakh), e os soldados ingleses tiveram um papel importante na
guerra do Império Bizantino contra o Ocidente.
Tristemente, entretanto, a Inglaterra e o resto do Ocidente
foram sucumbindo gradualmente à máquina papista, e a consciência ortodoxa dos
primeiros mil anos passou a aparecer apenas ocasionalmente, como quando o
proto-protestante inglês John Wiclif declarou em 1383: “O orgulho do papa é o
motivo pelos gregos terem rompido com ele... E nós ocidentais, mais que
fanáticos, nos dividimos dos fiéis gregos e da fé de Nosso Senhor Jesus Cristo...”
Uma lembrança do que era o verdadeiro catolicismo é dada pela
fundação, não muito antes do cisma ocidental, de comunidades monásticas
multinacionais no Monte Athos, local em que a primeira comunidade cenobítica
foi fundada por Santo Atanásio da Santa Montanha, no século IX. “Seguindo a
liderança de Santo Atanásio”, escreveu Vasiliev, “foram fundados muitos
monastérios, gregos e outros. Na época de Basílio II havia monastérios ibérios
e georgianos, imigrantes da Itália fundaram dois, um romano e um amalfitano...”
Após o cisma, porém, os monastérios latinos deixaram de existir;
e no começo do século XIII, quando o uniata João Beccus era “patriarca” de
Constantinopla, os soldados catalães saquearam a Santa Montanha e mataram
muitos monges que não aceitaram o papa. Desde então, a Santa Montanha – que
hoje possui comunidades búlgaras, sérvias, romenas, gregas, georgianas e russas
– tem sido o coração da luta das Igrejas Ortodoxas contra as falsas uniões com
Roma.
“Em 7 de outubro de 1207”, escreveu Boyeikov, “o papa Inocêncio
escreveu ‘a todos os bispos, clérigos e povo da Rússia’, ordenando para que
eles renunciassem à Ortodoxia, já que ‘o território dos gregos e sua Igreja
estão completamente contrários ao reconhecimento da sé Apostólica’. A Igreja
Russa rejeitou as pretensões do papado, e o centro das relações Rússia-Bizâncio
foi transferido para Nicéia. O Metropolita de Kiev, que era um grego de Nicéia,
liderou de forma inspiradora a luta da Igreja Russa em nome da defesa da Santa
Rússia e da Ortodoxia Ecumênica.
Os Metropolitas de Kiev e Toda Rússia buscaram a união e
reconciliação dos vastos territórios dos principados (de Kiev, Suzdal,
Chernigov e Volhynia). Historiadores dão muita atenção à expansão latina nos
Bálcãs. Mas eles esquecem que o outro local de batalha no mesmo período estava
no sul da Rússia, enquanto os latinos perdiam a batalha nos Bálcãs. Em 1205 os
búlgaros destruíram o exército cruzado de Balduíno II em Adrianópolis.
O II Reino Búlgaro (que começou em 1187), enquanto reconhecia a
liderança nominal do papa, estava historicamente ligado à Rus’ Ortodoxa. O Czar
Ivan Asen (1218-1241) foi aliado de Kiev e Nicéia, e por isso o Papa Gregório
IX o excomungou da Igreja Católica em 1236. Isso foi na véspera da invasão
tártaro-mongol.
“Então chegou 1238: Ryazan foi totalmente queimada, Vladimir foi
derrotada, e o santos Príncipes Yury Vsevolodovich e seus filhos, e Vasilko de
Rostov, morreram nas batalhas. Foi sob tais circunstâncias que em 9 de agosto
de 1238 o papa abençoou os húngaros a retomarem a cruzada contra a Bulgária. A Igreja
Russa e todo território russo foi subjugado pelo ataque da invasão
tártara-mongol. As profecias de Santo Abraão de Smolensk ficaram claras. Muitas
igrejas, monastérios, livros e objetos das igrejas foram capturados e
destruídos; na tomada das cidades russas, muitos bispos, padres e monges foram
mortos; a administração da Igreja caiu em desordem: o Metropolita José
desapareceu sem deixar vestígios, enquanto os Bispos Mitrôfanes de Vladimir e
Simeão de Peryaslavl foram mortos. Kiev, o adorno e ‘mãe das cidades russas’
ficou em ruínas (1240) e perdeu seu significado de centro político e
eclesiológico. A vida russa passou a concentra-se no norte dos países do
Oriente.”
O século XIII representou o fundo do poço na história da Igreja
Ortodoxa. Após a queda (temporária) de Constantinopla nas mãos dos latinos, e
com a (mais uma vez temporária) apostasia do Rei João Asen da Bulgária, além da
devastação da maior parte da Rússia e da segunda cidade da cristandade, Kiev,
feita pelos mongóis em 1240, e com a assinatura da unia com Roma pelo Imperador
Miguel Paleologus no Concílio de Lyon em 1264. Tudo isso mostra como a
Ortodoxia conseguiu lutar para sobreviver contra os inimigos do Oriente e
Ocidente que tentavam derrubar seu poder...
Mesmo seus melhores governantes da época, como o Imperador
niceno João Vatatzes, foram forçados a fazer aliança com hereges e infiéis que
escandalizaram as gerações seguintes. Apenas o século XX pode ser comparado com
o XII, devido à profundidade de sua destruição física e espiritual.
Porém, também apareceram raios de luz na escuridão dominante. Um
deles foi a gradual ascensão da Sérvia, sob a liderança do Santo Rei Estevão
Nemanja e seu filho São Sava. Outro foi a batalha de Novgorod, a última
província independente da Rússia, sob a liderança de Santo Alexandre Nevsky. O
grande príncipe decidiu, apesar da oposição do povo, pagar todo o tributo aos
mongóis para concentrar todas as forças numa guerra próspera contra o que ele
considerava ser – do ponto de vista espiritual – o inimigo mais perigoso, os
papistas suecos e os cavalheiros teutônicos. Teria sido muito melhor se os
outros governantes ortodoxos – principalmente os gregos – tivessem imitado a prioridade
de Santo Alexandre, e tivessem colocado a liberdade espiritual e religiosa sob
a liberdade política, e assim eles poderiam dizer: “Não no poder, mas na
verdade, que é Deus".
Dimensões da Heresia e Apostasia
Apostasia (em grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar
longe de") não se refere a um mero desvio ou um afastamento em relação à
sua fé e à prática religiosa. Tem o sentido de um afastamento definitivo e
deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Pode
manifestar-se abertamente ou de modo oculto.
Dependendo de cada religião, um apóstata, afastado do grupo
religioso no qual era membro, pode ser vitima de preconceito, intolerância,
difamação e calúnia por parte dos demais membros activos. Um caso extremo, é
aplicação da pena de morte para apóstatas na religião islâmica em paises
muçulmanos, como por exemplo, na Arábia Saudita.
Apostasia para efeitos Legais
O apóstata pode pedir formalmente para ser retirado dos
registros da religião em causa deixando assim de ser contabilizado para todos
os efeitos legais, o que acontecia no caso de religiões cristãs em consequência
do ato de batismo sobre o qual ele não teve (na maioria dos casos) qualquer
intervenção consciente. Esta vertente "legal" da apostasia é
relevante mesmo em países com separação formal entre o estado e a religião,
tendo em conta que muitas decisões políticas em relação às religiões são feitas
de acordo com as estatísticas de pessoas registadas e não com o número de
pessoas que efectivamente a praticam.
Apostasia da Fé Cristã
Apostasia da Fé Cristã, ou seja, do Cristianismo primitivo, na
optica das diversas religiões cristãs, é controverso. Existe uma notória
diferença entre apostasia da Fé Cristã e apostasia de uma determinada
organização religiosa.
As igrejas cristãs trinitarianas, consideram apostasia o
afastamento do fiel do seio da igreja invisível, igreja universal, para abraçar
ensinos contrários aos fundamentos bíblicos, o que é denominado heresia. Para
os trinitarianos, após conhecer o evangelho e estar envolvido com a Palavra
Sagrada, para depois negar que a salvação vem de Jesus como único e suficiente
salvador é apostatar do ensino mais básico do cristianismo. Este tipo de
apostasia é considerado extrema ingratidão e ponto central entre todas as
igrejas trinitarianas.
Heresias
Heresia (do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις,
"escolha" ou "opção") é a doutrina ou linha de pensamento
contrária ou diferente de um credo ou sistema de um ou mais credos religiosos
que pressuponha(m) um sistema doutrinal organizado ou ortodoxo. A palavra pode
referir-se também a qualquer "deturpação" de sistemas filosóficos
instituídos, ideologias políticas, paradigmas científicos, movimentos
artísticos, ou outros. A quem funda uma heresia dá-se o nome de heresiarca.
O termo heresia foi utilizado primeiramente pelos cristãos, para
designar idéias contrárias à outras aceitas,[1] consideradas como "falsas
doutrinas". Foi utilizado especialmente pela Igreja Católica e as Igrejas
Protestantes, estas argumentam que heresia é uma doutrina contrária à Verdade
que teria sido revelada por Jesus Cristo, ou seja, eles acreditam ser uma
"deturpação, distorção ou má-interpretação" da Bíblia, dos profetas e
de Jesus Cristo. A própria Bíblia fala sobre a "aparição de heresias",
"idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas,
dissensões, heresias," (Gálatas 5:20).
Por exemplo, os cátaros da França adoravam dois deuses (um do
Bem e outro do Mal),[1] porém os outros cristãos argumentaram que na Bíblia
existe só um Deus, por conseqüencia, este culto foi considerado uma heresia.
Embora o termo seja utilizado até a atualidade, está associado à Idade Média,
bem como os crimes cometidos pela Inquisição e Caça às Bruxas, atualmente estas
igrejas admitem que sua conduta estava errada ao punir com violência a heresia.
Heresia no cristianismo
Desde Jesus Cristo (Jo 17,21) passando por todos os apóstolos,
especialmente São Paulo, existe um impulso para estabelecer unidade no
cristianismo. A primeira forma de demonstração desse impulso foi a manutenção
da unidade em torno de Pedro. Se há um só Deus, que se revelou em Jesus Cristo,
que fundou Sua única Igreja (Mt 16,18) e se Jesus Cristo mesmo diz que Ele é o
Caminho, a Verdade e a Vida, não podem existir outras verdades verdadeiras.
No início não havia uma Igreja organizada, como hoje e desde o
tempo de Jesus, entre seus discípulos, sempre existiram controvérsias
doutrinárias e disciplinares, como se vê em At 15, 1-5. Havia grupos em Roma,
no Oriente e norte da África, que sob influência helenística, zoroastrista e de
convicções pessoais, que queriam adaptar a doutrina de Jesus às suas idéias.
Tais foram os grupos dissidentes ou heréticos fundados por Donato, a gnose de
Marcion (o "Primogênito de Satanás"), Montanus, Nestório, Paulo de
Samósata e Valentinus entre outros. Os escritos de Tertuliano contra os
heréticos e o "Contra as heresias" de Ireneu foram respostas às
heresias. O Concílio de Nicéia foi convocado pelo imperador Constantino devido
a disputas em torno da natureza de Jesus "não criado, consubstancial ao
Pai". Na Santíssima Trindade, as três pessoas têm a mesma natureza, ou
seja, a divina.
A partir de 325, algumas verdades do Cristianismo foram
estabelecidas como dogma através de cânones promulgados pelo concílio de
Nicéia, dentre outros. O Credo Niceno-Constantinopolitano esclarecia os erros
do arianos que negava a divindade de Jesus. Foi usado por Cirilo para expulsar
Nestório.
O sacerdote espanhol Prisciliano de Ávila foi o primeiro a ser
executado por heresia, 60 anos após o Concílio de Nicéia (em 385), sob o
protesto de Martinho, Bispo de Tours, que não aceitava o "crime novo de
submeter uma causa eclesiástica a um juiz secular".
Uma das linhas que foi condenada como heresia eram as que
divergiam da afirmação de que Cristo era totalmente divino e totalmente humano,
e que as três pessoas da Trindade são iguais e eternas. Este dogma (Um só Deus
em Três Pessoas = Três pessoas e uma só natureza divina assim como existem
bilhões de pessoas e uma só natureza humana) só foi estabelecido depois que
Ário o desafiou.