O Sinal da Cruz
Por que afirmam que nós, os ortodoxos nos benzemos
"ao contrário"?
Os Cristãos
Ortodoxos não se benzem ao "contrário". De fato, a Igreja Ortodoxa ensina os seus fiéis a benzerem-se de acordo com a Tradição
que nos foi legada pelos nossos Pais na Fé. E o fato de nos benzermos desta ou de outra maneira também não é questão sem importância:
é um conjunto de gestos cheios de significado e de simbolismo. Senão vejamos:
Quando nos benzemos,
começamos por unir os três primeiros dedos da mão direita (a mão nobre), simbolizando a Trindade. Depois, dizendo "Em Nome
do Pai", tocamos com esses três dedos unidos primeiro a testa e, seguidamente, na zona da cintura, simbolizando que o Pai
é o Criador do Céu e da Terra; em seguida, dizemos "e do Filho" e tocamos com os três dedos unidos no ombro direito porque
o Filho, Jesus Cristo, Ressuscitou e sentou-se à direita do Pai; finalmente, dizemos "e do Espírito Santo" tocando com os
três dedos unidos no ombro esquerdo o Filho e o Espírito Santo são os dois "braços" do Pai agindo na Criação.
Deste modo, traçamos
uma Cruz sobre o nosso próprio corpo, afirmando, simultaneamente, a nossa Fé na Santíssima Trindade e na essência de Cristo.
Convém ainda salientar
que até ao século XI todos os Cristãos, no Oriente e no Ocidente, se benziam como nós, Ortodoxos, o fazemos.
Metanóia, que significa?
Metanóia
é uma palavra grega que significa "arrependimento", "conversão". Arrependimento e Conversão que nos abrem as portas da Graça
de Deus, a Graça que nos dá acesso ao caminho da Santidade.
A
Metanóia ajuda-nos a receber o Dom das lágrimas, de que falava São Simeão o Novo Teólogo: "É impossível limpar uma veste suja
na ausência de água e, sem lágrimas, mais impossível, ainda, é limpar e purificar a alma das suas manchas e impurezas". "O
Arrependimento faz jorrar lágrimas das profundezas da alma: as lágrimas purificam o coração e fazem desaparecer os grandes
pecados".
Metanóia
é, também, o nome dado a dois gestos rituais transmitidos pela Santa Tradição: a "Pequena Metanóia", que é o gesto que fazemos
diante de um Ícone, antes de o beijarmos, ou de um Bispo, antes de lhe pedirmos a Bênção; a "Grande Metanóia", que é a prostração
que fazemos no "grande perdão", nas nossas Orações privadas ou durante o Ofício de Vésperas e da Sagrada Liturgia (quando
celebrada em dias feriais).
O INCENSO
O Incenso é
uma resina gomosa que brota na forma de gotas da árvore Boswellia Carteri, arbusto que cresce espontaneamente na Ásia e na
África. Durante o tempo de calor e seca (nos meses de Fevereiro e Março) são feitas incisões sobre o tronco e ramos, dos quais
brota continuamente a resina, que se solidifica lentamente com o ar. A primeira exudação para nada serve e é, pois, eliminada;
a segunda é considerada como material deteriorável; a terceira, pois, é a que produz o Incenso bom e verdadeiro, do qual são
selecionadas três variedades, uma de cor âmbar, uma clara e a outra branca.
NA ANTIGÜIDADE:
Era uso antigo
espalhar resina e ervas aromáticas sobre carvões acesos para purificar o ar e afastar o perigo de infecções.
Num primeiro momento,
a fumaça tinha um valor catártico (de purificação, de relaxamento) e também apotropaico (o de afastar ou destruir as influências
maléficas provenientes de pessoas, coisas, animais, acontecimentos).
O uso desta resina
perfumada não era exclusivo do Culto religioso. O Incenso não era queimado somente nos Templos, mas também nas casas; as Incensações
exalavam perfume e, ao mesmo tempo, tinham um fim higiênico.
O Incenso foi
sempre considerado como algo muito precioso. Era utilizado em todas as Cerimônias e funções propiciatórias, porém era, sobretudo,
queimado diante de imagens Divinas nos Ritos religiosos de muitos povos e, ao se sublimarem as concepções religiosas, as espirais
de Incenso, em quase todos os Cultos, converteram-se em símbolo da Oração do homem que sobe até Deus.
No Culto aos mortos,
a fumaça que subia para o alto, era considerada como uma forma de atingir o além e, ao mesmo tempo servia para afastar o odor
proveniente da decomposição, uma necessidade premente nos países de clima mais quente. O Incenso era também utilizado como
expressão de honra para os Imperadores, o Rei e as pessoas notáveis.
NAS SAGRADAS ESCRITURAS:
Conta-se na Bíblia
que a Rainha de Sabá chegou a visitar Jerusalém e o Rei Salomão, levando-lhe, entre outros presentes, uma quantidade extraordinária
do mais precioso Incenso que, naquela época, era vendido num centro de comércio muito importante. De fato, ao longo da história
do Incenso prosperam povos e Reinos míticos, como se lê na Bíblia, no Alcorão e no Livro Etíope dos Reis.
O Incenso fazia
parte da composição aromática sagrada destinada unicamente a Deus (Ex 30,34) e se transformou em símbolo de Adoração. Em linhas
gerais é símbolo de Culto prestado a Deus e de Adoração: Ouçam-me, filhos santos. Como Incenso exalem bom odor Sl 39,14. A
Oferenda do Incenso e a Oração são intercambiáveis, ambos são Sacrifícios apresentados a Deus, como diz o Salmo 141, que proclama:
Suba até vós minha Oração, como o perfume do Incenso. E é com estas palavras que, na Igreja Oriental, o Celebrante ora durante
as Vésperas e Laudes matutinas dos dias de Festa espalhando em torno de si o perfume do Incenso.
Com a oferta do
Incenso os magos do Oriente adoraram o menino Jesus como o recém-nascido Salvador do Mundo (Mt. 2,11). No último livro do
Antigo Testamento, o Apocalipse, João vê vinte e quatro Anciãos que estavam diante do Cordeiro de Deus, com Harpas e taças
de ouro cheias de Incenso: São as Orações dos Santos (Ap 8,3-4).
ENTRE OS CRISTÃOS:
Os Cristãos não
utilizaram o Incenso na liturgia desde o início porque queriam se distinguir, o mais claramente possível, do paganismo. Extinto
o paganismo, o Rito do Incenso encontrou logo seu lugar na Liturgia Cristã.
A partir do Século
IV, a Tradição Cristã adotou o Incenso em seus Rituais de consagração e ainda hoje o queima para honrar o Altar, as Relíquias,
os Objetos Sagrados, os Sacerdotes e os próprios fiéis, e para propiciar a subida ao céu das almas dos falecidos no momento
das Exéquias.
Primeiramente
foram colocados turíbulos na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e em seguida também nas grandes Basílicas do Ocidente,
junto aos Altares e diante dos túmulos dos mártires.
Graças à Benção
propiciada pelo Incenso antes de seu uso, ele chega a ser um Sacramental (Sinal Sagrado, que possui certa semelhança com os
Sacramentos e do qual se obtém efeitos espirituais).
Desde o século
IX, instaurou-se o uso do Incenso no início da Liturgia e desde o século XI o Altar se transformou no centro da Incensação.
O Turíbulo era também levado na Procissão junto com o Evangeliário. Em seguida, a Incensação estendeu-se às oferendas do pão
e do vinho, que são incensadas três vezes em forma de Cruz, da mesma maneira como se procede com o Altar e a Comunidade Litúrgica.
Desta forma, nasceu a tríplice Incensação durante a Liturgia, praticada também hoje de maneira regular no Oriente e, entre
nós, somente nas Festas solenes.
O Incenso deve
envolver toda uma atmosfera sagrada de Oração que, como uma nuvem perfumada, sobe até Deus. O agitar do Turíbulo em forma
de Cruz recorda principalmente a morte de Cristo e seu movimento em forma de círculo revela a intenção de envolver os Dons
Sagrados e de consagrá-los a Deus.
O Incenso é muito
utilizado na Liturgia fúnebre. Os falecidos permanecem como membros da Igreja, já santificados pelos Sacramentos. Portanto,
seu Corpo morto é honrado com o Incenso, como as santas mulheres, na manhã de Páscoa, queriam honrar o Corpo de Jesus, ungindo-o
com óleos preciosos.
Na Reforma Litúrgica,
depois do Concílio, em muitos lugares renunciou-se ao símbolo tradicional do Incenso, da mesma forma como ocorreu com outros
símbolos mais antigos.
Na Consagração
solene de um Altar, depois da unção da mesa, queima-se incenso e outros aromas sobre os cinco pontos do Altar. O Bispo interpreta
esse gesto com as palavras: “Suba até vós, Senhor, o Incenso de nossa Oração; e como o perfume se espalha por este Templo,
assim possa tua Igreja expandir para o mundo o suave perfume de Cristo”.
NOS DIVERSOS POVOS:
No Templo, juntos
aos ídolos, os Romanos, bem como os Gregos, tinham um Altar para o Incenso (foculus), em sinal de homenagem e adoração. No
culto ao Imperador, a Incensação possuía valor de reconhecimento da religião e do estado do Imperador enquanto deus.
Entre os Etruscos,
o Sumo Sacerdote, o único que podia conhecer os sinais dos acontecimentos, anunciava com um toque de trombeta o final de um
período e pronunciava o novo tempo queimando o Incenso sagrado em braseiros preciosamente decorados.
Na Grécia se incensava
a vítima do sacrifício para torná-la mais aceitável à divindade. O Incenso era deixado a arder perenemente em braseiros como
oferenda aos deuses, protetores da família, e aos antepassados e também era queimado nas casas dos enfermos, com fins terapêuticos.
Hipócrates, o famoso médico Grego (600 a.C), o utilizava para curar a asma e para aliviar as dores do parto.
Em Israel o Incenso
era de grande importância no Culto Divino. Com Incenso, misturado às outras substâncias odoríferas, o Sumo Sacerdote entrava
uma vez por ano no Santo dos Santos, ou seja, no espaço mais sagrado e reservado do Templo. No Egito o uso do Incenso remonta
a uns quinze séculos antes de Cristo. Os Egípcios utilizavam este perfume dos deuses como o chamavam, para os Rituais do Templo,
convencidos de que o Incenso podia fazer chegar à divindade os desejos dos homens. Também o definiam como o “suor dos
deuses que cai sobre a terra”.
Na Índia é queimado
durante as meditações de yoga, a fim de facilitar o encontro com a Divindade; perfuma os fornos crematórios, como Rito de
passagem da vida terrena a ultraterrena e, além disso, era também utilizado contra reumatismos e enfermidades nervosas.
Na África o Incenso
é ainda hoje utilizado para acalmar as dores de estômago, para melhorar o funcionamento do fígado e circulação do sangue.
Na Europa, em alguns povoados da Áustria e da Suíça, é queimado nas casas no período compreendido entre o Natal e a Epifânia
para garantir a boa saúde de todos que ali moram.
É considerado
de bom agouro queimar Incenso durante banquetes de casamento e também em bodas de prata, de ouro e de diamante. Na América
Central os maias associavam esta resina à lua, símbolo feminino portador de vida, como o sangue, a linfa, a chuva; também
queimavam Incenso para exorcizar a seca.
RELAXA,
EMBRIAGA, PURIFICA:
Pesquisas científicas
tem demonstrado que, ao ser queimado o incenso desprende tetraidrocanabinol (THL), substância com notável poder desinfetante,
porém também inebriante e anestésica, capaz, por exemplo, de atenuar dor de cabeça e de dente. O fenol exalado pela fumaça
do incenso de fato atua no córtex cerebral (sede da consciência e da elaboração de informações) e sobre o sistema Neurovegetativo
(que controla a respiração, o ritmo cardíaco, as funções digestivas e intestinais). Foi comprovado que o THL estimula a Serotonina
(substância produzida pelo cérebro, pertencente ao grupo biológico das aminas). Doses básicas, como por exemplo, as equivalentes
as exalações de Incenso durante uma cerimônia religiosa, aumentam o nível de Serotonina que, por sua vez, atenua os impulsos
nervosos e baixos a freqüência das ondas cerebrais, criando um estado psicofísico que facilita a capacidade de concentração.
A Serotonina é
também dotada de ação anti-hemorrágica, sendo protetora dos capilares. Supõe-se que o incenso, com seu poder inebriante é
capaz de ajudar na concentração, despertando a vontade psíquica, levando paz ao coração, aplacando as tensões, predispondo
à meditação e acendendo nos ânimos aquele fervor que permite entrar em contato com a Divindade. Também estimula favoravelmente
o olfato do homem, exalta o caráter solene de uma Celebração e, finalmente, desinfeta e purifica os ambientes.
A Participação do Homem na Sua Salvação
Não se pode
afirmar que a Salvação, o Perdão dos pecados e a Santificação, realizados pela obra Salvífica de Cristo, não sejam aplicados
ao homem senão exteriormente, mecânica ou magicamente. Não. Segundo a Doutrina Ortodoxa, é preciso que o próprio homem nela
colabore que se aproprie ativamente do que Cristo cumpriu objetivamente, que ele penetre por si mesmo na nova vida que surgiu
neste mundo com Cristo. É necessário seguir a prescrição de São Paulo: "Assim também operai a vossa salvação com temor e tremor"
(Fl.2, 12).
Em que é que consiste
essa ativa participação do Homem na sua Salvação?
A resposta da
Igreja Ortodoxa não é outra senão a expressão do seu pensamento ascético da vida. "E desde os dias de João o Precursor (Batista)
até agora, faz-se violência ao Reino dos Céus, e pela força se apoderam dele" (Mt 11, 12), disse Cristo. Por outras palavras:
a participação ativa do homem na sua Salvação consiste em travar duros combates com as Paixões, com a natureza pecadora, em
arrepender-se, em desligar-se dos poderes do mal; é a Purificação do pecado, a consolidação da vontade no bem, o cumprimento
da Vontade de Deus, dos Mandamentos Divinos, o crescimento na vida da virtude, no Amor por Deus e pelo próximo, renunciando
a si mesmo, oferecendo-se a si mesmo, para carregar a Cruz de Cristo. Tudo isto, naturalmente, requer, necessariamente, a
proteção, o apoio da Graça Divina. A Salvação do homem é um processo Divino-Humano.
À questão: o que
é que justifica o homem? a resposta de Católicos Romanos e de Cristãos Protestantes diverge, é discordante. Vejamos o que
dizem os teólogos da Igreja Romana: o que justifica o homem são a Fé e as boas obras. Quanto aos Protestantes, sustentam que
o que justifica o homem é somente a Fé e qualificam a prática Católico-Romana de desprezível santidade pelas obras. Portanto,
a oposição jaz na maioria do tempo nas palavras, mais do que nas coisas. Tanto Católicos como Protestantes encontram-se no
essencial com a Igreja Ortodoxa, quando Ela responde com o Apóstolo Paulo: "... mas sim a Fé que opera por Caridade" (Gl 5,
6).
Dia após dia, o Cristão
Ortodoxo repete na sua Oração da manhã:
Ó meu Salvador!
Liberta-me pela Tua graça;
pois se Tu quisesses que eu alcançasse a felicidade
pelas minhas obras,
isso não seria
nem uma graça nem um dom,
antes uma obrigação...
Tu disseste:
Quem crê em Mim viverá
e não verá jamais a morte.
Assim a fé em Ti salva os desesperados.
Vê: eu creio;
me salva então porque Tu és o meu Deus e o meu Criador.
Que agora, ó meu Deus,
a fé seja contada como obras:
não
exijas as obras
que deveriam, por si, justificar-me:
é esta minha fé que deve ser suficiente
para tudo, responder
por mim,
tornando-me participante na Tua glória eterna...”.
Em todas as Orações,
em todos os escritos dos Santos Padres e Doutores, a Igreja Ortodoxa confessa que o homem pecador é indigno do Amor, da Misericórdia
e da Graça de Deus, merecendo unicamente ser rejeitado e punido.
"Eu choro
e lamento-me amargamente,
ao ver a terrível retribuição da palavra;
pelas minhas obras
eu não possuo
nenhuma justificação
e tenho bem poucas obras
por causa dos meus pecados,
ó infeliz que eu sou!
Também
Te imploro...
envia-me o perdão dos pecados, ó Cristo, ó Deus,
e uma grande graça!"
(Domingo, oficio da noite, 5).
Será somente salvo
aquele que, em Cristo, for uma "nova criatura". Ora esse só será uma "nova criatura" quando abandone, rejeite "a conduta anterior
do velho homem arrastado, perdido pela cobiça enganadora", aquele que se renova no "sentimento (de foro íntimo) espiritual",
e reveste o "homem novo, criado por Deus na justiça e santidade verdadeiras" (Ef 4, 22-24). Ora, para isto também, a Graça
de Deus é necessária. É por esta razão que a Igreja Ortodoxa ora nestes termos no Ritual funerário:
"Ó Salvador,
pela Tua misericórdia,
salva das transgressões o Teu servo
que agora arrebataste na fé,
pois, ó Tu que amas os
homens,
pelas obras humanas ninguém é justificado”.
(Ritual do Funerário dos Presbíteros)
É somente pelo
Espírito Santo que, "toda a alma é vivificada, elevada ao receber a purificação e iluminada pela Trindade no Santo Mistério"
(Domingo, Ofício da Manhã).
O Uso do Véu na Igreja Ortodoxa
A Igreja Ortodoxa,
ou Oriental, como é chamada aqui no Ocidente, preservou tanto a Doutrina como o rico Ritual Litúrgico elaborado durante os
primeiros tempos do Cristianismo. Seria este um mero capricho, ou um excessivo apego a um formalismo ritual? Temos aqui exatamente
duas posturas, duas visões diferentes do mundo e da própria Igreja e, portanto, do seu Ritual. São praticamente duas atitudes
básicas diante do Sagrado. Da compreensão deste problema vai depender exatamente a verificação que o Ritual Ortodoxo é cheio
de sentido e significado, visto que o universo simbólico da Sagrada Liturgia é preservado em todos os seus detalhes e em todo
o seu rico conteúdo espiritual.
Neste sentido,
podemos afirmar que o véu tem necessariamente um sentido e dimensão que ultrapassam o uso cultural ou qualquer distinção discriminatória
para com o sexo feminino.
Por que reduzir
o Mistério a simples categoria sociológica, histórica, sexual ou cultural Por que se adotam interpretações racionalistas e
materialistas a uma dimensão que ultrapassa o tempo e o espaço? Ou o Sagrado está para além do concreto ou não existe? O Sagrado
evidentemente se expressa e manifesta no mundo, mas está além dele! Aqui começa a distinção entre a recusa do véu, numa interpretação
simplista e exterior ou a segunda opção apresentada pela Ortodoxia: viver o significado do véu dentro do universo do Rito
Litúrgico, cujo sentido está evidentemente para além do uso do objeto "véu", fazendo deste um mero fim sem sentido.
O Véu seria então
um símbolo, portanto um sinal através do qual somos remetidos para um outro significado além dele; é um meio para ir à outra
dimensão; chamemo-lo então: o Sagrado. Por outro lado, o véu como elemento isolado não tem nenhum atributo especial ou mágico
em si mesmo. Isto seria um erro grosseiro. Ele representa muito mais, é uma atitude, uma disposição, uma escolha. Neste ponto
se abre uma porta por onde podemos contemplar outra realidade, porque sendo uma atitude, isto significa escolha. Se há escolha,
há liberdade, então é possível compreender. Aqui entram em jogo dois atributos dados especialmente ao homem: liberdade (de
escolher) e inteligência (para compreender).
Tem importância
para a mulher o uso do véu na Igreja durante a Liturgia? A prática Ortodoxa afirma que sim. O jogo Litúrgico vai depender
da liberdade de ir até ele e além dele, como da participação por meio da compreensão. Aqui chegamos à questão principal. Tem
importância para a mulher o uso do véu na Igreja durante a Liturgia? A prática Ortodoxa afirma que sim como se dá e porque
é importante. O primeiro ponto é que reconhecendo o véu como símbolo, não se pretende esgotar todos os seus significados,
porque não tem apenas um significado, mas vários, muitos. Podemos aqui sugerir alguns:
1. Deus criou o Homem e a Mulher, macho e fêmea os criou!
Deus criando o
mundo como uma coisa unida, integrada; dentro da Criação, no entanto, há duas polaridades que vão realizar uma Unidade. O
Homem complemento da mulher e vice-versa, um precisa do outro. Como pode então um ser superior ao outro, se cada um precisa
do outro? Na Criação há outras dualidades: céu e terra, dia e noite, que correspondem também ao homem e à mulher numa relação
integrada, harmônica. Portanto dentro da Criação cósmica, cada polaridade tem seu lugar próprio, o equilíbrio do próprio Universo
depende disso. Se a Liturgia é uma Celebração cósmica, esta vai conter os elementos que o próprio Deus estabeleceu e são chamados
à Liturgia da maneira que Deus os criou: Homem e Mulher, cada um na plenitude do seu próprio sexo, porque cada um à sua maneira
reflete a própria Unidade da Criação Esta distinção deverá ficar bem clara e estabelecida na Liturgia, onde cada um é chamado
a assumir sua posição no mundo como homem ou mulher.
2. Criou o Céu e a Terra
Céu e Terra se
complementam, o Céu está em cima e a Terra embaixo, o homem "cobre" a mulher; isto não significa superioridade de um sobre
o outro, apenas lugares diferentes. Se a mulher vai representar a própria terra que é fecundada e coberta pelo céu, na Liturgia
a mulher vai cobrir sua cabeça, pois, está diante de Deus, não diante dos homens!
3. A Virgem MARIA
Na saudação do
Anjo Gabriel a Maria, para comunicar-lhe que seria a Mãe de Deus na terra, Deus escolhe uma mulher, claro! E aqui fica definido
qual é a relação da humanidade, e especialmente da mulher, diante de Deus. O Anjo lhe diz: "O Espírito Santo virá sobre ti
e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra". A mulher, portanto, diante de Deus, é receptiva e não passiva, posto
que ela aceita, à vontade dela disse sim. "Faça-se em mim conforme sua palavra". O véu vai significar claramente a aceitação
da palavra de Deus.
A mulher é naturalmente
mais receptiva que o homem. Tem já o dom de gerar filhos; isto a torna co-participe na Criação do mundo. Ela recebe o filho,
isto não é nada passivo, muito pelo contrário. A mulher, portanto é coberta por Deus, é um ser potencialmente mais "espiritual"
que o homem.
4. A Virgem Maria e a Maternidade de Jesus
Uma mulher e não
um homem é a pessoa que vai conhecer melhor o Cristo. Ela já o recebe no sim ao Anjo! A partir disto Jesus vai crescendo dentro
dela, é no seu interior que vai se desenvolvendo; ela então tem uma relação íntima, estreita como ninguém jamais a teve. O
Espírito Santo a cobriu e ela concebeu; tudo se passou dentro dela, no maior Mistério. Vemos sua barriga, sabemos que está
grávida, mas não sabemos como é. É um Mistério, está oculto o mundo moderno quer descobrir tudo, nada escapa a isso, mesmo
o Sagrado tem que ser exposto.
Na Liturgia Ortodoxa,
o Santuário é separado dos fiéis e em dois momentos fecha suas portas aos olhos dos fiéis: na Proskomídia (Preparação das
oferendas) que representa a vida oculta ou anterior de Cristo no mundo, e na Comunhão do Clero. O véu nas mulheres é a lembrança
permanente dentro da Igreja daquilo que não vemos, que é Mistério, está perto, mas está encoberto por um véu.
5. O Véu do SANTUÁRIO
O Santuário e
sua porta representam a entrada (a Porta, o Cristo) ao Céu, que é coberto por um grande véu. Aqui na terra, portanto, um véu
nos separa do Mistério da vida que está para além da porta que é o Cristo. Só o Espírito Santo nos faz enxergar para além
do véu e do Mistério; é necessária muita Fé, a Fé que a Virgem Maria nos ensina, a Fé da mulher que espera um filho e vê nele
um futuro distante.
A mulher representa
a Espiritualidade, ou seja, a receptividade a Deus para entrar com Cristo para além do véu e da porta do Santuário.
Portanto, o véu
não é impedimento algum, mas confiança, Fé e Esperança de ir além dele para encontrar o Cristo. A mulher com véu vai representar
a Fé em algo que não vemos, está simplesmente encoberto!
6. Maria, a própria Igreja
Deus escolhendo
Maria para Mãe de Cristo e Maria aceitando, se a torna mesma o modelo de todos os Cristãos, homens e mulheres. A Igreja é
uma mulher, é o Corpo que recebe o Cristo. Encarnando aqui na terra Cristo se faz [carne]. Ele é concreto. Em Maria, a Mãe-Igreja,
é que recebemos o Cristo, gerado pelo Espírito Santo.
A Igreja Santificada
e pura vai conhecer o Cristo intimamente, de dentro. Isto só é possível pelo Mistério, não pode ser explicado, analisado,
apenas vivido de dentro, como uma Mulher-Mãe-Maria o vive. Se Maria é a Igreja onde Cristo nasce, o Cristo é a Cabeça da Igreja,
dirigida espiritualmente por ele; é a mulher com a cabeça coberta, porque coberta por Cristo, vai nos ensinar a fazer todos
a sua santa vontade. O véu será submissão a Cristo, e não aos homens [...] Então a mulher aceita amorosamente se entregar
a Cristo, aceitando que ele a cubra.
O Sinaxário na Tradição da Igreja
Nos primórdios
da vida da Igreja, quando os Cristãos estavam organizados em pequenas comunidades locais, freqüentemente clandestinas e escondidas
por medo das perseguições, as Festas Litúrgicas não eram tão numerosas nem tão faustuosas quanto hoje em dia.
A vida Litúrgica
era, então, centralizada na Celebração semanal do Dia do Senhor (Domingo) onde todos comungavam os Santos Mistérios. Havia,
igualmente, o hábito de Celebrar a Eucaristia no túmulo dos Mártires da comunidade, no dia do aniversário de seu "nascimento
para o céu".
Por ocasião desta
Reunião (Synaxis), o Bispo local ou o bispo de uma comunidade vizinha, conhecido pela sua eloqüência, pronunciava o Panegírico
do Santo. Quando havia, lia-se os Autos do processo e da execução do Mártir, e depois se lia a narrativa de seus milagres
póstumos piedosamente reunidos.
Cada Igreja local
tinha, assim, seu próprio Calendário Litúrgico, chamado "Martirólogo". Porém, pouco a pouco o Culto de alguns Santos expandiu-se
além dos limites de sua Igreja de origem: principalmente por causa dos milagres realizados por suas Relíquias. Estas atraíam
os Peregrinos e encorajavam outras Igrejas a honrar o Santo a fim de gozarem de sua proteção; sobretudo as que haviam conseguido
alguns fragmentos de Relíquias.
Apareceram, então,
os Martirólogos gerais, comuns a grandes regiões eclesiásticas, que não suprimiram os regionais, mas desenvolveram-se paralelamente
e progressivamente os absorveram.
Com as lutas contra
as heresias e os numerosos confessores da Fé que elas ocasionaram, acrescentaram-se às Festas dos Mártires, as dos Santos
Bispos ou Padres que deram a vida pela pureza da Doutrina. Daí em diante as comunidades maiores não podiam mais se reunir
em casas particulares, e por isso construíram-se vastas Basílicas sobre o túmulo dos Mártires e criou-se o hábito de reunirem-se
não somente para a Festa, mas, também para as Sinaxes regulares, semanais ou mesmo cotidianas.
No século IV,
com o fim das perseguições e, em seguida, o reconhecimento do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, esta evolução
Litúrgica precipitou-se. Em todo o lugar construíram-se Igrejas esplendidamente ornamentadas, desenvolveu-se a poesia Litúrgica,
instituíram-se novas Festas: a do Senhor, a da Mãe de Deus, a dos Santos e dos Mártires universais, de maneira que cada dia
do ano fosse ocupado pela memória de um ou alguns Santos (Mártires, Confessores, Ascetas, etc). A leitura dos Autos foi relegada
a um plano extralitúrgico e substituída por Hinos.
Acentuava-se mais
o aspecto dos Mistérios Iniciáticos da Assembléia Litúrgica, considerada como "o Céu na terra", antecipação neste mundo do
Reino dos Céus, o momento temível da Reconciliação de todas as coisas no Corpo de Cristo, sob a forma dos preciosos Dons Eucarísticos.
O aspecto universal
e cósmico da Igreja se sobrepõe, doravante, sobre o aspecto local e de refeição fraterna dos primeiros séculos. É por isso
que, durante todo o período Bizantino, o Calendário dos Santos tendeu constantemente à unificação com o Calendário da Grande
Igreja (Santa Sophia) em Constantinopla, sem por isso perder sua leveza ou cor local. Até o século XV, por exemplo, cada Igreja
e cada Mosteiro de Constantinopla tinha um Calendário próprio, mas cujas datas, dos principais Santos coincidiam com o Calendário
geral.
Nos Séculos VIII
e IX, a heresia Iconoclasta, atacando [a prática da Veneração] às Imagens Santas, visava também o Culto dos Santos e em geral
de todo intermediário entre nós e Deus.
Em reação a isto,
os Ortodoxos insistiram ainda mais no Culto de Veneração aos Santos. Com o fim da heresia, as Igrejas foram cobertas de Ícones,
escreveu-se com ardor a vida dos heróis da Ortodoxia, e contemplaram-se o Calendário e os Ofícios Litúrgicos. Os Santos Hinógrafos
do Mosteiro de Studion (São Teodoro, São José, etc...) deram aos nossos Ofícios a forma que tem hoje, e deixaram em seus
Hinos um lugar reduzido à leitura do resumo da vida dos Santos do dia depois da 6ª ode do Cânone das Matinas
que se chama "Sinaxário": um artigo das primeiras assembléias Litúrgicas. Do século IX ao século XI completou-se a redação
destas notas curtas do Sinaxário, que são mais freqüentemente resumos de vidas feitos por São Simeão Metafraste (séc. X) ou
por grandes Historiadores Eclesiásticos (Eusébio de Cesaréa, Sócrates, Sozomenes, Theodoreto).
As notas do Sinaxário,
inseridas depois em nossos Menólogos, não
são senão lembretes. A vida dos Santos, suas citações, seus milagres eram difundidos em suas biografias e, sobretudo, pela
Tradição oral e popular, como se pode observar ainda hoje nos paises tradicionalmente Ortodoxos.
Sobre o Dízimo
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Essa afirmação
é a primeira proclamação de Fé contida no Símbolo de Fé da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. A fórmula do Símbolo
de Fé da Igreja foi definida nos Concílios Ecumênicos de Nicéia (325) e Constantinopla (381). Há séculos a Igreja guarda,
defende, e proclama esta Doutrina Sagrada.
Esta Doutrina
foi revelada aos homens pelo próprio Deus, o Deus de Abrão, Isaac e Jacó. O conteúdo desta Revelação é fundamento de nossa
Fé comum. É para nós um tesouro de valor incalculável. Tanto mais não fosse por sua origem Divina. Enquanto Verdade revelada
esta Fé é atuante e dinamizadora da Vida no interior da Igreja. Igreja que não é apenas o local do diálogo entre o Deus Criador
e a criatura. É o próprio diálogo em si mesmo.
Trata-se, na verdade,
de um diálogo de natureza espiritual, pessoal, entre o Criador e a criatura. Este diálogo, necessariamente, se dá na forma
de uma sinergia, um encontro de vontades. Ou seja: a Fé que temos o que no fundo de nosso ser sabemos ser verdadeiro informa
nosso entendimento sobre o mundo, nossas esperanças pelo futuro e conseqüentemente nosso comportamento presente. Com as atitudes
que tomamos, em Igreja, encarnamos tornamos visível a Verdade que nos foi revelada.
Em contra partida,
o exercício de praticar as obras da Fé leva o fiel à descoberta da dimensão espiritual de sua pessoa, e o prepara, pela Purificação
de sua alma, para o encontro definitivo com Deus. Como conclusão imediata, verificamos que é fundamental haver, da parte do
homem, um esforço pessoal no sentido de conduzir a sua vida de uma forma coerente com o que acredita ser o fundamento de sua
vida. É então o momento de fazermos uma pergunta: o que leva uma pessoa a converter-se à Ortodoxia? Muitos motivos e situações
particulares poderão ser utilizados para explicar esta decisão, de suma importância. Cada um há, certamente, de se lembrar
como foi este momento tão feliz em sua vida. É capaz até de encontrar nesta lembrança alguns bons motivos que o levaram a
querer ser Cristão Ortodoxo. Mas serão, óbvio, sempre motivos subjetivos. Olhando a questão pela ótica do homem está tudo
certo. Afinal, não se diz?: "Deus aproveita-se de tudo!"
Mas, provavelmente,
quase ninguém estará preparado para identificar em si o "algo", no fundo de sua alma, que o pôs em movimento. Este "algo" tem um nome: é vocação, o chamamento que Deus faz, no
fundo do coração, a cada um de nós. "Muitos serão chamados, mas poucos serão escolhidos". Todos conhecem sobejamente estas
palavras das Sagradas Escrituras. De fato, todos (a Humanidade inteira) são chamados à Salvação. Mas apenas a alguns Deus
escolhe para o serviço (construção) da Igreja de Cristo. Igreja esta que, evidentemente, será Porta de Salvação para muitos
outros.
O surgimento de
uma Igreja, encarnada e atuante no mundo, pressupõe a existência: de Amor a Deus, de uma Fé verdadeira, de fidelidade a Tradição,
de um território a Evangelizar, de fiéis que orem, de Sacramentos, de Hierarquia, de clérigos. E o Senhor Nosso Deus vai chamar
cada um, de acordo com a sua vocação, para preencher e realizar o seu lugar na Igreja. Portanto, a Igreja é uma sociedade
Divino-Humana, porque feita com os homens. A Igreja é um convite de Cristo aos homens. A Igreja é o lugar do encontro objetivo,
através de Cristo, com Deus. A Igreja é a Nova Jerusalém.
Considerando o
estreito vínculo espiritual que existe entre Igreja e Tradição, podemos dizer que, se quisermos levar ao extremo, a Igreja
é já anterior ao Dia de Pentecostes. Desde os tempos do Patriarca Abraão Deus dá início ao surgimento de um "Povo eleito".
Povo que deveria estar preparado para viver na presença do Seu Filho Unigênito, quando chegasse à hora do primeiro Advento.
Verdadeiramente o Senhor Altíssimo conduziu, amorosamente pelo convite, o Homem, a Sua criatura bem-amada, para a convivência
pessoal com o Verbo Encarnado. Exatamente como deveria ter acontecido no Paraíso caso o ser adâmico tivesse concordado com
o Plano de Deus.
Tal como a Legislação
da Antiga Aliança, os preceitos, as regras, rubricas, Cânones, e até mesmo, os Dogmas da Nova Aliança têm o mesmo objetivo:
conduzir, de uma forma pedagógica, o homem do seu estado decaído, até a condição de homem salvo e Ressuscitado diante de Deus.
Os Relatos contidos
nos Livros do Êxodo, Levítico e Números mostram o Deus Altíssimo, libertar uma multidão do cativeiro conduzi-los pelo deserto,
instituí-los como um povo dando-lhes uma Lei e depois ordenar, em minúcias, a este povo que:
§ "Tragam ofertas para a construção de uma Tenda com seu Tabernáculo".
§ "Façam uma Arca com madeira de Cetim".
§ "Façam um propiciatório, um Castiçal e dois Querubins de ouro puro".
§ "Façam uma mesa de madeira de cetim. Costurem 10 cortinas para o Tabernáculo".
§ "Costurem um véu para o Tabernáculo".
§ "Construam um Altar para os Holocaustos".
§ "Construam um Pátio para o Tabernáculo".
§ "Costurem Vestes Sacerdotais".
§ "Façam o Altar do Incenso e uma pia de cobre".
§ "Tragam especiarias, azeite, Incenso".
Para a feitura
de todas estas coisas há uma determinação direta do Altíssimo, referente às medidas e aos formatos e ainda sobre quem deveriam
ser os Artífices. Também dá ordens específicas do quê, de como e para que, Celebrar Sacrifícios e Holocaustos. Deus, além
disso, escolhe Aarão e seus filhos para Sacerdotes e ordena que se façam os sacrifícios e as Cerimônias da consagração. Exclui
da partilha de Canaã a tribo dos levitas que doravante não tomarão posse da terra. Viverão exclusivamente para o serviço do
Tabernáculo e serão mantidos, unicamente, com parte do que fosse oferecido ao Tabernáculo. E, para Aarão, Deus determinou:
"Porque o peito movido
e a espádua alçada tomei dos filhos de Israel dos seus sacrifícios pacíficos, e os dei a Aarão, o Sacerdote, e a seus filhos,
por estatuto perpétuo dos filhos de Israel. Esta é a porção de Aarão e a porção de seus filhos das ofertas queimadas do Senhor,
no dia em que os apresentou para administrar o Sacerdócio ao Senhor" (Lv.7, 34-35).
O Pacto, entre
Iahweh e o povo, relativo à Tenda da Congregação reduz-se na prática a que o povo ficaria encarregado de construir, carregar
e manter a Tenda da Aliança; e o Deus de Abraão, Isaac e Jacó nela habitariam. Habitando-a, o Senhor conduziria o Seu povo
à Terra Prometida:
"[...] encheu o Tabernáculo...
Quando a nuvem levantava de sobre o Tabernáculo, então os filhos de Israel caminhavam em todas as suas jornadas" (Ex.40, 34).
Manter a Tenda
significava suprir todas as necessidades práticas para a Celebração dos sacrifícios que o povo oferecia. Isto incluía farinha,
Azeite, Incenso, água, lenha, sustento dos Sacerdotes e tudo mais que fosse necessário para as Celebrações dos sacrifícios.
A Tenda da Congregação,
com os sacrifícios nela celebrados será, portanto, o testemunho vivo da Aliança celebrada entre Deus e o Seu povo:
"Tomarás o dinheiro
do resgate dos filhos de Israel e o entregarás para o serviço da Tenda da Reunião; ele será para os filhos de Israel um memorial
diante de IAHWEH, para o resgate de vossas pessoas." (Ex.30, 16).
Este espírito
de participação mútua, entre o Homem e o Sagrado, para a construção de um lugar de encontro e diálogo com Deus permanece em
todas as gerações do povo de Deus. Nas Sagradas Escrituras podemos ler:
"Impusemo-nos
como obrigação: dar a terça parte de um Siclo por ano para o Culto do Templo do nosso Deus: para o pão da Oblação, para a
Oblação perpétua e o holocausto perpétuo, para os Sacrifícios dos Sábados, das Neomênias, das solenidades, e para as oferendas
sagradas, para os Sacrifícios pelo pecado que garante a expiação em favor de Israel; em suma, para todo o serviço do Templo
do nosso Deus; e levar cada ano ao Templo de IAHWEH ás primícias de nosso solo e as primícias de todos os frutos de todas
as árvores, bem como os Primogênitos de nossos filhos e de nosso rebanho, como está escrito na Lei os Primogênitos de nosso
gado graúdo e de nosso gado miúdo, ao Templo de nosso Deus, sendo destinados aos Sacerdotes em função no Templo de nosso Deus.
Além disso, a melhor
parte de nossas moeduras, dos frutos de toda árvore, do vinho novo e do azeite, levaremos aos Sacerdotes, nas dependências
do Templo de nosso Deus; e o dízimo de nossa terra, aos levitas são os próprios levitas que recolherão o dízimo em todas as
nossas cidades agrícolas; um Sacerdote, filho de Aarão, acompanhará os Levitas quando forem recolher o dízimo para o Templo
de nosso Deus, para as salas do Tesouro". (Neemias 10, 32-38). "O povo se alegrou com o que haviam feito, pois foi de todo
coração que eles assim fizeram ofertas voluntárias a IAHWEH; o próprio rei Davi teve grande alegria". (I Crônicas 29, 9).
Natural haver tal alegria, afinal o
povo sempre teve a certeza da promessa:
"Trazei o dízimo integral
para o Tesouro, a fim de que haja alimento em minha casa. Provai-me com isso, disse IAHWEH dos Exércitos, para ver se eu não
abrirei as janelas do céu e não derramarei sobre vós bênção em abundância". (MI 3, 10).
"Honra a IAHWEH com
a tua riqueza, com as primícias de tudo o que ganhares; e os teus celeiros estarão cheios de trigo, os teus lagares transbordarão
de vinho novo." (Prov 3, 9-10).
O Patriarca Abraão acreditou nesta
promessa:
"Melquisedec, Rei de
Salém, trouxe pão e vinho, ele era Sacerdote do Deus Altíssimo. Ele pronunciou esta Bênção: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo
que criou o céu e a terra, e bendito seja o Deus Altíssimo que entregou teus inimigos entre tuas mãos. E Abrão lhe deu o dízimo
de tudo." (Gn 14, 18-20).
O Patriarca Jacó
fez apelo a esta promessa:
"Se Deus estiver comigo
e me guardar no caminho por onde eu for, se me der pão para comer e roupas para me vestir, se eu voltar são e salvo para casa
de meu pai, então IAHWEH será meu Deus e esta pedra que ergui como uma Estela será uma casa de Deus, e de tudo o que me deres
eu te pagarei fielmente o dízimo" (Gn 28, 20-22).
Na verdade, acreditar,
se alegrar e fazer apelo ao cumprimento desta promessa são comportamentos coerentes com o dado da Fé: "Creio em um só Deus,
Criador de todas as coisas". O Verdadeiro Cristão, fiel a sua Fé, "sente" no fundo de sua alma que, de fato, tudo quanto ele
possui na vida, não é unicamente uma conquista individual. Afinal tudo o que existe não foi criado por Deus? Na verdade, não
é nem que o Senhor Nosso Deus tenha permitido ao Homem ter alguma coisa, porque de fato não há posse de nada nesta vida. Há
apenas participação nos bens da Criação. Na Sagrada Liturgia o Celebrante exclama:
"Aquilo que é Teu, recebendo-o
de Ti, nós Te oferecemos por todos e por tudo". (Liturgia de São João Crisóstomo).
Neste contexto
fica mais claro compreender o Apóstolo quando diz: "...Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas
essas coisas (comer, beber, vestir) vos serão acrescentadas". (Mt. 6, 33).
O Cristão Ortodoxo
sabe que o Senhor nosso Deus apenas concedeu que o homem usufruísse alguns dos bens presentes em Sua Criação. Portanto quando
um filho de Deus aproxima-se do Santuário para fazer uma oferta, de fato, não é oferta nenhuma, é de legítimo direito, uma
partilha. De fato, um momento de Comunhão da criatura com o Criador.
"Precavei-vos cuidadosamente
de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens". (Lc 12, 15).
Um exemplo: no
momento que o fiel paga o dízimo, está confirmando que se submete a partilha que Deus lhe oferece. Ele, o Criador de todas
as coisas, oferece ao Homem tudo o que lhe é necessário, e o Homem oferece, como memorial deste estatuto, 10% deste tudo a
Deus e sempre terá 90% para desfrutar.
Com o Advento
da Encarnação do Verbo a Lei mosaica não foi abolida, foi aperfeiçoada. As Ofertas e os Dízimos que antes eram resultantes
de uma obrigação jurídica; em Cristo tornam-se marcas da concordância (sinergia) entre o amor do crente e o Amor do Senhor
seu Deus.
"Pois sabeis que não
foi com coisas perecíveis, isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos Pais,
mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um Cordeiro sem defeitos e sem mácula". (1Pd 1, 18).
O Amor, em Cristo,
torna-se a mola motora da vida do fiel. Não é mais, apenas, o cumprimento ou não da Lei o que verdadeiramente importa. A Parábola
do Fariseu o do Publicano nos mostra claramente que o Fariseu cumpria toda a Lei, inclusive pagava o dízimo. O outro Apóstolo
nos deixa um alerta:
"Ai de vós, Escribas
e Fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da Lei:
a Justiça, a Misericórdia, e a Fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas". (Mt. 23, 23).
Assim sendo o
que é determinante, não é mais a submissão em si. Determinante é o que leva o Homem a submeter-se. O mero cumprimento dos
Mandamentos não é garantia que haja o Amor, no entanto, a não aceitação dos Mandamentos Divinos é certeza garantida que não
há Amor. É simples: quando "algo", em Igreja, não está funcionando lá muito bem, é porque a capacidade de amar, também, não
está lá muito bem.
Na Antiga Aliança
o Homem estava submetido aos rigores da Lei. A certeza objetiva das Bênçãos de IAHWEH era o cumprimento estrito da legislação
de Moisés. Na Nova Aliança ele, o Homem, goza e participa no Amor, em Cristo, pela livre concordância e cumprimento dos preceitos
e exortações da Igreja de Cristo. Nosso Deus e Salvador Jesus Cristo modificou a forma e a qualidade da submissão aos preceitos
da Lei, mas não aboliu o conteúdo da Lei. Nem tampouco aboliu as necessidades que a antiga Lei atendia.
Nas Sagradas Escrituras
vemos nos relatos dos quatros evangelistas (a bolsa de Judas, Marta e Maria, o imposto a César, o jumentinho para a Páscoa,
a compra de alimentos para saciar ao povo, a preparação da Ceia, o óleo aromático em seus pés, a compra dos bálsamos para
o túmulo, um local para o sepultamento do Mestre etc.) o Mestre ensina aos seus discípulos com qual espírito deveriam resolver
algumas das necessidades práticas do dia-a-dia da comunidade.
O Milagre da multiplicação
dos pães e dos peixes foi uma exceção que, entre outros motivos, serviu para o Senhor mostrar que, se fosse da vontade do
Pai, o Homem seria sempre alimentado miraculosamente, não precisaria trabalhar o que seria uma contradição com a ordem Divina
expressa quando da expulsão do Paraíso. Deus quer participação, quer Comunhão e Comunhão com Deus! Mas, atenção! Participação,
partilha e Comunhão para atender as necessidades do próprio Homem, não de Deus!
Na Igreja Ortodoxa,
herdeira e guardiã dos ensinamentos do Deus Criador dos Céus e da Terra, hoje, são raros os casos de Igrejas locais que recebam
algum tipo de subvenção ou ajuda do Estado. Na sua grande maioria a Igreja é mantida pelos recursos dos seus fieis. A Igreja,
mesmo na sua dimensão física, será sempre a Imagem visível e real do amor partilhado pela comunidade.
O pão, o vinho,
o óleo, o azeite, o carvão, o incenso, à vela e os pavios substituíram, nos dias de hoje, os animais oferecidos em sacrifício
pelo povo. O Sacrifício não é mais com animais, é incruento. Mas continuam sendo ofertas para o Sacrifício (que agora é o
de Cristo). Mas ainda é o povo quem oferece Sacrifícios ao Senhor seu Deus. O Celebrante apenas oficia o Sacrifício oferecido
pela comunidade paroquial. Para esse mister a Igreja disponibilizou, aos fieis, a mesa de Dons.
Os Sacrifícios
têm de ser oferecidos em determinado local. Este local também (como na antiga Tenda da Congregação) tem de ser providenciado
e mantido (aluguel ou compra, impostos, luz, água e etc.) pelo povo. Para esse fim a Igreja conta com coletas, doações, bazares,
festas, etc. Para Celebrar o Sacrifício Eucarístico é necessário que haja um Sacerdote validamente consagrado para tal Ofício.
Os Clérigos necessitam, para o exercício do seu ministério Sacerdotal, de conhecimento e estudo, de paramentos, de transporte
e talvez mais alguma coisa. Para este objetivo a Igreja conta com a arrecadação de dízimos. O dinheiro apesar de ser uma questão
básica e fundamental na vida de qualquer cristão é, ao mesmo tempo, uma questão muito séria e de difícil equilíbrio. É uma
questão espinhosa desde os tempos Apostólicos. São Paulo já labutava com ela:
"Não sabeis
que aqueles que desempenham funções sagradas vivem dos rendimentos do Templo, e aqueles que servem ao Altar têm parte no que
é oferecido sobre o Altar? Da mesma forma o Senhor ordenou àqueles que anunciam o Evangelho, que vivam do Evangelho" (1 Cor
9, 13-14). E ainda: "Somente eu e Barnabé não temos o direito de ser dispensados de trabalhar? Quem vai alguma vez
à guerra com seus próprios recursos? Quem planta uma vinha e não come do fruto? Quem apascenta um Rebanho e não se alimenta
do leite do Rebanho? Digo isto, baseado apenas em consideração humanas? Ou a Lei não diz também a mesma coisa?" (I Cor. 9,
6-8).
Estas questões
não são meramente questões financeiras. São questões de uma profundidade espiritual muito grande. Referem-se diretamente ao
Amor Divino e a capacidade de amar do fiel, à Salvação e a Comunhão com Deus. Não interessa se é mil ou um, o valor da oferta
que se faz. O que importa é que, como sinal de Fidelidade, sempre se faça as ofertas necessárias. Que elas sejam expressão
de um Amor verdadeiro. As Ofertas são espiritualmente necessárias. A Igreja necessita delas para manter-se encarnada e atuante
no mundo. O fiei necessita oferecê-las para assegurar pela prática sua Comunhão com o Deus Criador dos Céus e da terra.
A
Tradição da Igreja
A
Tradição da Igreja é, corretamente, qualificada de oral. Entretanto, no decorrer dos tempos, ela foi também fixada por escrito.
Já a Tradição Apostólica compreende tanto a pregação oral dos mesmos como a Escritura que nos legaram: São Paulo transmite
o que recebeu: 1Cor 11,23 e 15,3; 2Ts 2,15. São Judas Tadeu (Jd 1,3) exorta a lutar denodadamente pela Fé, transmitida, de
uma vez para sempre, aos Santos.
Disso
dão também testemunho, além da Sagrada Escritura, as obras dos Padres Apostólicos e, ulteriormente, os Doutores da Igreja
Indivisa e os Símbolos da Fé, o mais utilizado dos quais é o de Niceia-Constantinopla. Importa citar, ainda, o Livro dos Cânones
dos Santos Apóstolos, dos Santos Concílios Ecumênicos e Locais e dos Santos Padres, que reproduzem, em primeiro lugar, os
dogmas do IV, VI e VII Concílios Ecumênicos e incluem o conhecido "Símbolo de Santo Atanásio"; e os Livros Litúrgicos da Igreja
Ortodoxa, em que se perpetua, até aos nossos dias, não somente a vida de Oração, que foi a da antiga Igreja Cristã, mas também
a sua Confissão de Fé.
Importa
sublinhar claramente, uma vez mais, o fato de que na IGREJA ORTODOXA a Tradição como afirma retamente F. Heiler "não é a reprodução
mecânica de um sistema de fórmulas estabelecidas e fixas, mas antes uma inesgotável fonte de vida".
Por que ascendemos velas?
Por que se acende
uma vela a Deus ou a um santo? Para comprá-los a fim de alcançar uma graça? Ou para apaziguá-los a fim de ficarmos livres
de um mal que nos atormenta ou de uma desgraça que nos ameaça? Nem um nem outro. O sentido da vela acesa é muito mais nobre
e mais profundo.
Símbolo de consumação
Deus é nosso Criador
e nós, suas criaturas; quer dizer que tudo o que somos e tudo o que temos nos foi dado de graça por Deus. Por conseguinte,
seu poder sobre nós é absoluto e seus direitos ilimitados. Pode até exigir a nossa própria vida em sacrifício.
Os povos pagãos
reconheciam esse direito a seus deuses. Por isso ofereciam-lhe sacrifícios humanos (crianças, geralmente, por causa de sua
inocência), para acalmar a sua ira ou conseguir o que desejavam.
A Bíblia nos diz
também que o Deus verdadeiro exigiu uma vez um Sacrifício Humano; pediu a Abraão que lhe sacrificasse seu filho único Isaac.
Abraão obedeceu. Mas no instante em que segurava a faca para matar o filho em cima da fogueira, Deus enviou seu Anjo que reteve
a mão do pai e substituiu o filho por um carneiro (Gn 22). Deus mostrava, assim, que os sacrifícios humanos não são agradáveis
a seus olhos e que só quis pôr à prova a fidelidade e a obediência de seu servo.
Na História da
humanidade houve um só Sacrifício de seu próprio Filho feito homem, nosso Senhor Jesus Cristo, na Cruz, para a Salvação e
a Redenção do gênero humano. Esse Sacrifício continua renovando-se misticamente, de modo incruento, onde houver um Sacerdote
e um Altar.
Que relação pode
haver entre um sacrifício e uma vela acesa? A Vela acesa substitui diante de Deus a pessoa que a acende: Fica se consumindo,
como se fosse um holocausto oferecido a Deus. O Holocausto era, na Antiguidade e na Lei Mosaica, o Sacrifício mais perfeito,
porque por ele a vítima era oferecida a Deus e queimada por inteiro em reconhecimento a seu poder e direito absolutos sobre
quem a oferecia. A vela acesa ê um holocausto em miniatura. A pessoa compra a Vela que passa a lhe pertencer, a ser sua. Acende-a
para ser consumida em seu lugar.
Uma Vela acesa
a Deus simboliza, portanto, a Adoração e a entrega total de quem a acende ao Deus Todo Poderoso, Senhor e Criador de todos
os seres. Uma vela acesa a um Santo tem o mesmo simbolismo, só que este Sacrifício é oferecido a Deus por intermédio deste
ou daquele Santo.
É claro que está
longe de ter o mesmo valor do Sacrifício Eucarístico, cujo valor é infinito, visto que por ele é o próprio Homem-Deus que
se oferece a seu Pai. Mas nem por isso deve ser desprezado ou abolido. Deve-se, sim, evitar a má interpretação e o exagero,
isto é, evitar dar-lhe maior valor do que ele tem. Vela acesa é, pois, símbolo de consumação.
Símbolo de Cristo, Luz do mundo
A Vela acesa tem
também outro simbolismo. Irradiando Luz iluminadora, simboliza Cristo "Luz do mundo", conforme ele próprio se qualificou.
Por isso, nos Ofícios Litúrgicos, usam-se freqüentemente Velas acesas, sobretudo durante a Semana Santa e o tempo Pascal.
Mas o dia da luz é o Sábado Santo, de noite, Vigília da Páscoa os fiéis, aliás, chamam este dia de Sábado da Luz. Nele, antes
da Divina Liturgia, procede-se à Bênção solene da Luz: o Sacerdote benze, atrás do Altar, uma Vela acesa e, depois, de frente
para os fiéis, convida-os a acender dessa Vela benta, suas Velas, dizendo:
“A Luz de
Cristo ilumina a todos! Bendito seja o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que ilumina e santifica nossas almas”.
E com as Velas
acesas faz-se uma procissão dentro da Igreja ao canto do Salmo 147. No Domingo da Páscoa, ao iniciar a Cerimônia da entrada
triunfal de Cristo que precede a Liturgia da Ressurreição, o Sacerdote, segurando o Círio Pascal aceso, convida os presentes
a acender dele os seus Círios, dizendo: "Vinde, tomai luz da Luz sem ocaso e glorificai o Cristo que Ressuscita dos mortos".
E todos saem da Igreja em procissão com Velas acesas, para o anúncio da Ressurreição de Cristo, pela leitura do Evangelho
próprio e o canto, várias vezes repetido, do Hino da Ressurreição:
"Cristo ressuscitou dos
mortos;
venceu a morte a pela morte,
e aos que estão nos túmulos
Cristo deu a Vida”.
Depois, o Celebrante
bate na porta fechada, exigindo sua abertura e entra primeiro, seguido dos fiéis, sempre com velas acesas, ao canto do Cânon
da Ressurreição. É claro o simbolismo das Velas acesas: Cristo Ressuscitado, Luz sem ocaso. Esse Simbolismo, encontramo-lo
também no Sacramento do Batismo, chamado também Sacramento da iluminação. Depois de batizar a criança, que passa, assim, das
trevas do pecado para a Luz da graça, o Sacerdote manda, acender as Velas que os presentes seguram na mão e proclama: "Bendito
seja Deus que ilumina e santifica todo homem que vem a este mundo".
Em qualquer Cerimônia
Litúrgica, em especial na "Divina Liturgia", acendem-se Velas no Altar para simbolizar de um lado a consumação da criatura
diante do Criador, o Sacrifício de Cristo em substituição à humanidade; e de outro lado, porque é Cristo que está se sacrificando,
ele que é a "Luz do mundo".
A exemplo de seu
fundador, que usou coisas materiais (pão, vinho, água, óleo) para significar coisas imateriais e até para transformá-las em seu Corpo e Sangue, a Igreja usa também o material para esse fim (Velas,
Incenso, Ícones, etc.); nossa natureza, que é um misto de matéria e de espírito, o requer.
Não sendo o "homem
nem Anjo nem simples animal" só pode alcançar o espiritual e o sobrenatural por intermédio do sensível e do natural. Sejamos
humildes e aceitemos nossa natureza como ela é.
Por que Acender Velas?
O Costume de acender
Velas tem origem nas prescrições do Antigo Testamento:
"O Senhor disse
a Moisés: “Ordena aos Israelitas que te tragam óleo puro de olivas esmagadas para manter, continuamente acesas as lâmpadas
do Candelabro”. Disporás as lâmpadas no Candelabro de ouro puro para que queimem continuamente diante do Senhor" Lv
24, 1-4.
A Vela acesa,
enquanto rezamos, tem um significado muito especial. A idéia básica da "LUZ" como oposição às "trevas" está nas suas raízes:
Por exemplo, o Profeta Simeão falou da vinda de Cristo como "Luz para revelação dos gentios". Simeão refletia consigo mesmo
a profecia do Profeta Isaías sobre a vinda do Messias:
"O povo que andava
nas trevas viu uma Grande Luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma Luz" Is 9,1. Esta Profecia
cumpriu-se no Novo Testamento, quando a Virgem Maria apresentou seu filho Jesus no templo de Jerusalém. (Lc 2, 22-32:). Este
acontecimento comemora-se com a Festa da Apresentação do Senhor no templo, no dia 15 de Fevereiro, ou, pelo antigo calendário,
no dia 02 deste mesmo mês. Após a Liturgia nesta festa, faz-se Benção das Velas que são usadas nas Orações particulares durante
todo ano. Na Festa de Apresentação do Senhor no Templo, os paroquianos, antes de começar o Jejum da Quaresma, acendem as Velas
abençoadas e, visitando seus vizinhos, pedindo-lhes perdão pelas ofensas feitas durante o ano.
Também Jesus identificou-se
a si mesmo com estas palavras:
"Eu Sou a LUZ
do mundo, aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a Luz da Vida" Jo 8,12. Um dos mais antigos Hinos da Igreja,
que cantamos nas "Vetchirnhas" (Vésperas), inicia-se fazendo referência Cristo: "Ó Luz Serena da Glória de Pai Celestial Imortal".
Acender Velas
nas Igrejas é, portanto, uma Tradição muito antiga. Claramente, a prática individual de acender a Vela quando entramos na
Igreja, é um meio poderoso de unir a nossa Oração individual com a Oração da Igreja e com Cristo, a Luz do mundo. Mas atenção:
as Velas não devem substituir nossas Orações nem devemos esperar efeitos mágicos de seu uso. Mas, como expressão de nossa
presença diante do Altíssimo, a suplicar a Luz que ilumina as trevas de nossos pecados fazendo-nos deles tomar consciência
para uma contínua conversão a que somos todos chamados. Durante a perseguição do comunismo na Ucrânia, introduziu-se, pouco
a pouco, o costume de pedir às pessoas que iam à Igreja, que acendessem Velas por si, impedidos por alguma razão de fazê-lo,
de modo a significar sua presença espiritual na Igreja.
A Vela no BATISMO
Para os Cristãos
Ortodoxos, a vela usada no Batismo tem um significado muito especial. Como disse o Patriarca Sofrônio: "Hoje saímos das trevas
e fomos iluminados pela LUZ do conhecimento de Deus. No Batismo nós pedimos a Jesus Cristo, que nos envie o Espírito Santo,
conforme sua promessa, para iluminar os olhos de nossas almas, a fim de podermos ver Cristo a Verdadeira LUZ que ilumina todo
o homem que vem a este mundo" Jo 1,9.
A Vela do Batismo
deve ser mantida pelos pais e apresentada à criança quando alcançada a idade do entendimento. Neste momento, os pais deverão
explicar que, pelo Batismo, a criança recebeu a LUZ, que é Cristo: "Eu Sou a Luz do mundo" Jo 1,5 e pela Crisma o "Dom do
Espírito Santo". Esta Luz ilumina nossos passos para ver por onde devemos trilhar no decurso de nossa existência. Mostra-nos
que somos os filhos de Deus, amados, cuidados e redimidos por Ele. Faz-nos pensar que Ele caminha conosco Ele, o verdadeiro
caminho, o único meio que nos une (religa-nos) ao Pai e dá-nos a Vida eterna no paraíso. Jo 14,1-6, 16-17, 26-28.
Jesus é a real
e única LUZ para os Cristãos, revelando-nos a nossa identidade e o nosso destino. Nos primeiros tempos da Igreja a Vela Batismal
era sempre mantida pelo batizado. Acendia-se todos os anos no aniversário de Batismo e nos dias dos Santos Maiores. Na Festa
da Epifania era trazida para a Igreja e usada para a Renovação das Promessas do Batismo, quando se reafirmava a renúncia ao
demônio e a nossa Fé em Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. (Epifania era o dia em que se realizava um grande número de Batismos
nos primeiros tempos da Igreja, como também na Festa da Ressurreição). De igual modo, era acesa, esta mesma Vela, durante
a Cerimônia de Casamento ou Ordem, simbolizando a presença da Santíssima Trindade: a cera simboliza o Pai; o pavio, Jesus
Cristo e o fogo simboliza o Espírito Santo. Finalmente no momento da morte, para expressar nossa Fé na nova Vida: "Aquele
que me segue não andará nas trevas, mas terá a LUZ da vida", (Jo 8,12) para iluminar as trevas da morte na espera da Luz do
Cristo Transfigurado, a iluminar-nos com a Luz da Vida Eterna.
Os pais Cristãos
Ortodoxos devem reviver esta Tradição de preservar a Vela Batismal de cada criança e acendê-la constantemente na Festa de
Epifania para relembrar sua Filiação Divina, motivando assim os pequenos a fazer o mesmo nos momentos mais importantes de
suas vidas, como nos aniversários de Batismo, ao receber os demais Sacramentos ou numa Festa especial, vivendo sempre sob
a Luz de Cristo.
Todas as famílias
Ortodoxas, na Festa de Epifania ou Domingo após, ou ainda na Festa da Ressurreição do Senhor, deveriam reviver esta Tradição,
renovando os votos do Batismo que nos revigora na Verdadeira Vida que é Cristo.
A PROCISSÃO
O
homem gosta de ser exaltado, durante a vida e após a morte. Reis e generais vencedores de batalhas eram recebidos em triunfo,
quando voltavam depois das suas conquistas. Grandes cortejos os precediam em meio a cantos e aclamações.
O
mesmo cortejo, dessa vez triste e com lamentações, levava os mortos ilustres à sua última morada. Quanto mais ilustre for
o defunto, maior o cortejo. O que os antigos faziam a seu modo e com os meios a seu alcance, os modernos não aboliram, só
que o fazem de outro modo e com outros meios aperfeiçoados pelas descobertas científicas. Não foram, porém, dispensados os
cortejos de pedestres, carros ou carruagens.
O
Cristianismo adotou muitos dos costumes puramente humanos e até pagãos, dando-lhes um sentido espiritual e um valor sobrenatural.
Um desses costumes é a Procissão que, apesar de não se constituir em elemento essencial da vida religiosa, não deixa de ser
um incentivo para a piedade.
O
próprio Cristo não hesitou em recorrer a ela: aceitou e, talvez pudéssemos dizer, provocou a sua Entrada Triunfal em Jerusalém,
uma semana antes da sua morte, montado num jumentinho e precedido e seguido por imensa multidão que segurava palmas e ramos
de oliveira e gritava: Hosana! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!. Logo que entrou em Jerusalém, toda a cidade
se pôs em alvoroço (Mt 21, 10).
Há
Procissões triunfais, Procissões fúnebres e Procissões penitenciais. Há Procissões Litúrgicas, isto é, que fazem parte dos
Ofícios Litúrgicos, como as duas Procissões da Liturgia: a da Pequena Entrada feita com o Santo Evangelho e a da Grande Entrada,
ou ofertório, feita com o Cálice e a Patena, que contêm as oferendas que vão ser consagradas. Temos também a Procissão do
Enterro de Cristo na Sexta-feira Santa; e as Procissões do fogo sagrado no Sábado Santo, etc.
Há
Procissões de Devoções particulares como a Procissão com o ícone do Padroeiro da Igreja paroquial no dia da sua Festa e outras.
As Procissões, até de devoções particulares, têm geralmente um efeito benéfico, sobre a Fé dos fiéis. Eis um exemplo tocante
a esse respeito: durante a última guerra mundial, quando, na Grécia, Atenas foi libertada da ocupação inimiga, o povo, civis
e militares, governantes e governadores, entraram na capital do país em Procissão triunfal, seguidos pelo Arcebispo Metropolitano,
segurando o Ícone da Mãe de Deus, a Theotókos, e todos cantando à Virgem Maria o seguinte Hino Litúrgico:
"Nós,
teus servos, ó Mãe de Deus,
te registramos os lauréis da vitória,
penhor da nossa gratidão,
como
a um general que combateu por nós
e nos salvou de terríveis calamidades.
E como tens um poder
invencível,
livra-nos dos perigos de toda espécie,
para que te aclamemos:
Salve, Esposa
sempre Virgem!”
A
história da Igreja, no Oriente, como no Ocidente, registra muitas dessas Procissões de agradecimento a Cristo e à sua Mãe
por vitórias ganhas ou calamidades afastadas. Registra também Procissões penitenciais para implorar a Misericórdia de Deus,
a fim de que envie chuva, depois de longa seca, para livrar de uma epidemia, alastrando-se e fazendo vítimas, etc.
Pastoralmente
tais Procissões produzem um efeito salutar, maior, talvez, que o melhor sermão, pronunciado pelo melhor dos pregadores. O
efeito é ainda maior quando se unem os dois: Procissão e Pregação. Por isso, nas missões promovidas nas paróquias, por ocasião
de acontecimentos importantes, os missionários não dispensam nos programas uma ou mais Procissões. Não se pode negar que as
Procissões, como qualquer ato humano, podem dar margem a abusos ou talvez for consideradas por alguns (geralmente sem Fé ou
com Fé adormecida) como promoções folclóricas, mas isso não constitui motivo para serem desprezadas ou suprimidas. Pelo contrário,
deve-se esclarecer a sua finalidade e, por meio delas, despertar a Fé, sacudindo-a de seu torpor.
A Presença do Demônio nos
Textos da
Bíblia e da Tradição
Tal como conhecemos,
os demônios já eram objeto de estudo e de especulações desde os povos Sumérios e Acádios, que influenciaram por sua
vez a Mesopotâmia , os povos Hebreus, os Caldeus e o mundo Helênico. Na Mesopotâmia, os males que não constituíam grandes
catástrofes naturais eram atribuídos à influência dos demônios. Os demônios, acreditavam os Mesopotâmicos, eram numerosos,
divididos em legiões encarregados de espalhar o mal aos homens e à natureza, segundo cada espécie. Havia o grupo que
cuidava de espalhar as doenças contagiosas (lepra e malária), o grupo que influenciava na natureza (vendavais, maremotos)
e o grupo que influenciava o comportamento do homem (raiva, ódio, fúria, epilepsia, distúrbios).
Para cada grupo
específico havia os “Sacerdotes”, homens estudados e preparados para enfrentá-los e exorcizá-los com Rituais,
magias, sacrifícios e chás preparados com ervas próprias. Havia, entretanto, o maior de todos, que nenhum sacerdote
conseguia derrotar: o demônio da morte que atemorizava principalmente as gestantes e crianças recém nascidas. O índice
de mortalidade infantil era muito elevado nesta região e época, e isto era atribuído a um ser espiritual horrível que não
poupava as crianças de viverem. Este demônio era concebido sob a forma de uma serpente.
Tais pensamentos
chegaram ao povo de Israel e a superstição a respeito do assunto fez crescer as especulações e o temor. O Judaísmo do
período neotestamentário demonstrava uma crença forte nos poderes do demônio, derivada em muitos aspectos da Mesopotâmia como
também dos Gregos. A Cultura Helênica colocava o demônio como um ser intermediário entre os deuses e os homens. E, também
lá era forte a crença de que o demônio fosse causa de muitas doenças e desgraças.
Para os Judeus
e Cristãos, a origem dos demônios se explica pela Exegese Bíblica: nos livros Apócrifos eles são descritos como anjos
decaídos. No livro dos Gênesis, teriam eles surgidos da união entre os filhos de Deus e as filhas dos homens (Gn 6,1-4). Nesta
passagem observamos que os demônios são filhos de Satanás (que se apresentou sob a forma de serpente no Paraíso) com as filhas
de Adão, dando origem aos gigantes da mitologia e do folclore judaico. No livro da Sabedoria, vemos refletida a idéia
de que o demônio é o gerador da morte e das desgraças, no versículo 24 do capítulo 2: “é por inveja do diabo
que a morte entrou no mundo”.(cf. Jo 1,6; Gn 3,1; Sl 72,9) A Tentação do pecado, além de doenças e desgraças, após o
pecado dos primeiros pais, também era atribuída aos demônios. Os Judeus, como os Mesopotâmicos, acreditavam que os demônios
estavam organizados em grupos chamados legiões sob a chefia de Satanás, Mastema ou Belial. No Livro de Judite, Capítulo
6, são denominados “Anjos que não conservaram o seu principado, abandonando a sua morada e estão, por isso, presos
em cadeias eternas à espera do grande juízo”.
A presença dos
demônios no Novo Testamento, é fruto de crenças trazidas do Judaísmo e das religiões Mesopotâmicas. As Possessões demoníacas
que aparecem nos Evangelhos, Atos e nas Cartas de Paulo, ilustram a forte crença de que os demônios agem sobre os homens,
manifestando seu poder através de doenças e mortes; as escrituras a partir daí, os chamam de “espíritos”:
“Quando um espírito impuro sai do homem, perambula por lugares áridos, procurando repouso, mas não encontrando diz “voltarei
para minha casa, de onde saí”. Chegando lá, encontra-a varrida e arrumada. Diante disto, vai e toma outros sete espíritos
piores que ele para habitar aí. E com isso a condição final daquele homem torna-se pior que antes. Eis o que vai acontecer
com esta geração má”. (Mt 12 e Lc 11)
As passagens que
se referem à Possessão demoníaca trazendo doenças graves e contagiosas, como a epilepsia e a lepra, as privações físicas
como cegueira, mudez e aleijamento corporal são inúmeras: (Mt 12, 43; Lc 8, 31; Mt 8, 29; Lc 4, 6; Jo 13, 2; 1Cor 2, 6; 1Jo
3, 8; Jo 12, 31; 1Cor 5, 5 etc).
Os Demônios são
freqüentemente chamados de “espíritos”, especialmente com o acréscimo de “impuros”: “Certa vez
veio ao nosso encontro uma escrava que era possuída por um espírito impuro que fazia adivinhações trazendo muito lucro para
seus donos”. (At 16, 16) São também chamados de “Anjos de Satanás” por São Paulo: “Para que eu não
me encha de soberba e orgulho foi me dado um aguilhão na carne, um anjo de satanás, para me espancar...” (2Cor 12,7).
Possessão Diabólica
Por Possessão
diabólica se entende a posse de uma pessoa humana por um espírito do mal, de maneira que tal espírito assuma a personalidade
do ser humano, controlando todos os seus movimentos físicos, inclusive a fala. A crença na possessão diabólica não aparece
no Antigo Testamento, nem em qualquer obra literária anterior ao judaísmo. Os antecedentes da crença do poder dos demônios
em serem os causadores de catástrofes, doenças e morte, não era visto como necessariamente uma Possessão, mas apenas
como uma manifestação do poder do mal. Neste caso, o demônio não estava na pessoa, mas somente o seu poder.
Já nos Evangelhos
e nos Atos dos Apóstolos, são mencionadas muitas possessões propriamente ditas, com direito a exorcismos, alguns, inclusive,
feitos por Jesus. (Mt 8,16; Mc 1,34; Lc 11,19; At 5,16) De particular interesse são os episódios em que o comportamento da
pessoa possessa e a expulsão são descritos com alguns pormenores. Pessoas são agitadas e sacudidas pelos demônios (Mc 1, 23-27);
o demônio de Gerasa vivia em cemitérios e era possuidor de força extraordinária e após a expulsão vai habitar numa vara de
porcos que se precipita no mar (Mt 12,22; Lc 11,14). Em Mt 17, encontramos um caso explícito de epilepsia atribuída
a uma possessão demoníaca de quem os discípulos não tiveram poder de expulsar. Em At 16, São Paulo expulsa um demônio de uma
escrava que adivinhava o futuro.
Muitos escritores
modernos explicam os relatos de Possessão, nos Evangelhos, dizendo que as pessoas daquela época permaneciam com a ingênua
crença dos antigos pais para os quais os males de causa desconhecida eram obras do demônio. As pessoas que eram chamadas
de possessas apenas sofriam de desordem psíquica que não podiam ser reconhecidos como tais. Não podemos
generalizar, supervalorizar ou menosprezar a presença do Mal no mundo. O bom senso e a prudência em tais afirmações
parece que passaram ao largo. Esses escritores dizem que Jesus se acomodou à crença popular e usou a linguagem que todos
estavam familiarizados para anunciar o Reino de Deus. Eles não desmerecem os poderes de Jesus e a sua Divindade, pois de fato
as curas eram realizadas, os pecados eram perdoados. Jesus realizava tais milagres usando da linguagem parabólica e simbólica
da tradição que estava enraizada naquele povo há muito tempo.
Quando Jesus efetuava
a cura, a pessoa toda era renovada. Não era uma cura somente corporal, mas espiritual. Jesus sempre pedia aos curados,
mudança de vida e de atitudes: era uma cura do coração.
Parece que Jesus
compartilhava da Fé de seus contemporâneos naquilo que se refere à existência e à atividade dos espíritos maus. Os Relatos
Evangélicos de exorcismos, incluem com freqüência, algo mais do que uma enfermidade. É o que se acha implícito nos sinais
não naturais de violência: “Quando Jesus descia do barco, veio até Ele um homem possuído por um espírito impuro que
habitava no meio das tumbas e ninguém podia dominá-lo. Muitas vezes era acorrentado e algemado, mas sua força era tanta que
arrebentava com as algemas e grilhões”; (Mc 5, 4-5) e no conhecimento religioso manifesto pelos expulsos: “Que
queres de nós, Jesus de Nazaré. Sei quem tu és, és o Santo dos Santos, o Santo de Deus” (Mc 1, 24). O importante
é que em todas as ocasiões, Jesus vence o poder do mal; a manifestação do poder do demônio seja nas doenças ou
nas deficiências torna-se secundária quando nos atemos ao poder de Jesus frente ao mal. Não importa como o demônio se manifeste
Jesus sempre o vencerá. “Ao entardecer, trouxeram-lhe muitos endemoninhados e ele, com uma palavra expulsou os espíritos
e curou todos os que estavam enfermos a fim de se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaias: ‘levou-nos nossas
enfermidades e carregou nossas doenças’” (Mt 8,16-17).
Jesus nos faz
conhecer que não basta somente o exorcismo. É preciso substituir o poder demoníaco pelo poder do bem e por uma iluminação
interior do indivíduo. O exorcismo é o primeiro passo no processo de cura. O espírito impuro é exorcizado para que seja substituído
pelo Espírito Santo.
A Tentação
Um dos aspectos
do domínio de Satanás é o seu poder de manipular (e de tentar) as mentes dos homens. Semelhante poder supõe nele profunda
compreensão da alma humana, das vontades e das inclinações dos filhos de Deus. Satanás é descrito como o tentador em Mateus:
“Então, aproximando-se o tentador disse: transforme estas pedras em pão” (Mt 4,3); como o pai da mentira em João:
“Vós sois do diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não
permaneceu na verdade. Por que nele não há a verdade. Quando mente fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da
mentira” (Jo 8,44); é enganador e usa de formas inocentes para ludibriar o homem: “O próprio Satanás se transfigura
em Anjo de luz” (2Cor 11,14).
São Justino, no
discurso “O Verbo e suas Sementes”, comenta “os malvados demônios estenderam um véu sobre os divinos ensinamentos
de Cristo, com a finalidade de apartar os homens [...]. Usa de estratagemas para tentar o homem a separá-lo da graça de Deus,
desejando separar o Criador de sua criatura, o Pai de seus filhos. Esta separação constitui o traço essencial do pecado. O
pecado de Adão é o pecado do rompimento da unidade, do rompimento da harmonia, rompimento da verdade. Em Adão a humanidade
se afastou de Deus” [...]. “Nossos primeiros pais eram puros, mas concebendo a palavra da serpente, geraram a
desobediência, a divisão e a morte” (São Justino).
O Demônio usa
a divisão para enfraquecer o homem. Quando a alma do homem está dividida pelo pecado, o egoísmo se instala e a inveja
toma seu trono no coração humano. A inveja de Caim, fruto de um coração dividido e egoísta, levou a assassinar seu irmão.
Além da separação,
a Satanás é atribuído tradicionalmente o domínio do mundo secular. Ele é descrito como o “Príncipe deste mundo”:
“É agora o julgamento deste mundo; agora o Príncipe deste mundo será lançado fora, e quando eu for elevado atrairei
todos a mim” . (Jo 12, 31) Paulo o chama de “o deus deste mundo”: “Se o nosso Evangelho permanece
velado, está velado para aqueles que se perdem, para os incrédulos, dos quais o deus deste mundo obscureceu a inteligência
a fim de que não vejam brilhar a luz do Cristo”. (2Cor 4, 3-4).
Santo Inácio de
Antioquia, na Patrística, usa também a expressão “Príncipe deste mundo” para falar do demônio, e nos adverte;
“O Príncipe deste mundo quer arrebatar-me e corromper meus sentimentos em relação a Deus. Não sejais como os que invocam
Jesus Cristo, mas desejam o mundo! Na habite entre vós à inveja!” (Sermão aos Romanos).
Quando o diabo
tentou Jesus O levou para uma alta montanha e lhe mostrou todos os Reinos do mundo dizendo: “Eu te darei
tudo isso se, prostrando-se me adorares” (Mt 4,8). O ter, o ser e o poder são os alvos preferidos do demônio para
tentar separar o homem de Deus.
“O Demônio
é uma criatura que seduz, apresentando-se muitas vezes como tentação da carne e da beleza”. Assim acreditavam
os Padres do Deserto. Às vezes se apresenta sob forma humana, possuidor de uma beleza sedutora, como um Anjo de luz. Assim é descrito o demônio pelos primeiros Cristãos Gregos que
o pintaram como sendo jovem e encantador, dizendo com isso que o mal é tão atraente e poderosamente sedutor, que os
homens cedem ou consentem com o mal diante de sua tentação. “De diversas maneiras o demônio mostra sua hostilidade para
com a verdade. Pretende por vezes golpeá-la simulando defendê-la. Faz-se defensor do único Senhor para extrair da divina unidade
uma heresia” (Tertuliano, ao defender o dogma da Santíssima. Trindade, contra heresia da Praxéias).
O Exorcismo
O Primeiro Concílio
de caráter local que assumiu uma atitude solene e decidida sobre a questão do diabo foi o Concilio de Praga (Portugal), em
561, numa declaração contra os Priscilianos, que acreditavam que o diabo não havia sido criado por Deus. A Igreja então afirmou
que Deus criou-os Anjos perfeitos e por causa de seu livre arbítrio rebelaram-se. Mais tarde, outras afirmações
foram consolidadas pelo Magistério e a Tradição a respeito da origem, obras e tentações demoníacas. Por isso o Exorcismo deve
ser visto dentro do contexto da Igreja. Para os Cristãos, o Exorcismo não se trata de um Ritual Gnóstico, nem do domínio de
uma técnica, nem da habilidade mística de um Sacerdote. O Exorcista é ministro de Cristo e da Igreja. É Cristo quem Exorciza.
É o seu poder que subjuga e lança para fora o mal através do Sacerdote, em nome da Igreja. Porque é a Igreja, Corpo Místico
de Cristo, quem capacita, pelo Sacramento da Ordem, a realizar a obra de Cristo em nome d’Ele.
Na Igreja Primitiva,
o exorcismo era feito sempre por um sacerdote cuja vida espiritual era intensa, e sempre na companhia de outros membros da
Igreja, que se uniam ao Sacerdote na Oração, recordando que, onde dois ou três estivessem reunidos em nome do
Cristo, Ele estaria no meio deles. Sendo assim, era garantida a presença de Cristo num Ritual de Exorcismo, pois esta
promessa saiu da própria boca do Senhor. O Exorcismo é uma Oração dirigida a Deus, a fim de afastar os demônios ou os espíritos
maus das pessoas, lugares ou coisas que estejam infestados por eles, que correm o perigo de se converterem em vítimas ou instrumentos
de sua maldade. O Exorcismo é uma Oração da Igreja que reza unida pelo afastamento da presença do mal. A fé, a vocação
e a integridade espiritual do Sacerdote desempenham um papel importante no êxito do Exorcismo: “E constituiu doze para
que ficassem com Ele, para enviá-los a pregar e terem autoridade para expulsar os demônios”. (Mc 3,14; Mt 10,1)
Também no Sacramento
do Batismo as forças do mal são exorcizadas pelo Sacerdote, purificando assim a alma da criança para receber o Espírito
Santo pelas águas batismais. Três Grandes Orações são elevadas a Deus para que qualquer tipo de mal seja afastado
daquele que receberá o Batismo.
As Orações
que se elevam a Deus em nome do Senhor Jesus para obter a libertação do mal, seja ele qual for, está presente no culto cristão
desde o principio. A Fé Cristã se caracteriza pela convicção invencível de que Cristo é Senhor e de que o pecado, a
morte e Satanás não terão a última palavra sobre o destino definitivo do homem. O Cristão Autêntico está seguro que Cristo
já venceu o mal embora suas manifestações ainda sejam sentidas no mundo.
O Jejum na Igreja Ortodoxa
Nos dias de
hoje, o ensinamento tradicional da Igreja sobre o Jejum é desconhecido por grande parte de seus fiéis. Este texto visa, humildemente,
tentar auxiliar os Cristãos Ortodoxos que desejam seguir a regra do jejum da Igreja Ortodoxa.
Embora estas regras
pareçam bastante severas para aqueles que nunca as viram antes, elas se aplicam a todos os Cristãos Ortodoxos, não apenas
aos monges. Como nem todos os leigos conseguem guardar essas regras em sua plenitude, o objetivo deste texto é apresentá-las
sem decidir o que é “mais apropriado”, já que cada cristão deve seguir o jejum de acordo com sua disposição e
situação particular, e sempre sob a orientação de seu pai espiritual.
Deve-se mencionar
também que na Igreja Ortodoxa, o jejum consiste de dois importantes aspectos: o físico e o espiritual. O primeiro implica
na abstinência de certos alimentos. Já o Jejum espiritual consiste da prática de Orações constantes e sinceras somada à abstinência
de pensamentos, desejos e atos ruins e maldosos.
O principal objetivo
do Jejum é a obtenção de autodisciplina e de controle sobre as paixões da carne ou seja, libertar-se da dependência das coisas
mundanas para se concentrar nas coisas do Reino de Deus, a fim de fortalecer a alma para não ceder à tentação e ao pecado.
Segundo São Serafim de Sarov, o Jejum é “algo indispensável para se adquirir os frutos do Espírito Santo em nossa vida”.
Portanto é importante
sempre ter em mente que o Jejum não é um objetivo em si mesmo, nem um ato de mortificação sem um objetivo maior, tampouco
uma "Penitência" para agradar a Deus, e muito menos uma punição angustiante que fazemos para pagar nossos pecados.
Ao contrário, para
o Cristão Ortodoxo, o Jejum deve ser acompanhado de júbilo, pois jejuar é um ato de autodisciplina que impomos voluntariamente
a nós mesmos para nos tornarmos pessoas melhores.
Também devemos
sempre ns lembrar que para os Cristãos, todos os alimentos são puros. Quando há prescrição de Jejuns, nos abstemos por razões
disciplinares, e não porque este ou aquele alimento é “impuro” (vide São Marcos 7:15-23 e Atos dos Apóstolos 10:9-15).
Por fim, jamais
podemos esquecer lembrar que Catecúmenos e pessoas em processo de conversão não tem obrigação de Jejuar e mesmo os fiéis Ortodoxos
devem Jejuar sempre sob acompanhamento de seu pai espiritual, para que tal disciplina não se torne algo farisaico ou não cometamos
o pecado do orgulho.
Jejum semanal
Exceto quando
estamos em períodos onde há dispensa (ver abaixo), todos os Cristãos Ortodoxos devem manter o Jejum estrito todas as quartas
e sextas-feiras. Nesses dias deve-se evitar o consumo dos seguintes alimentos:
·
Carnes, incluindo aves, e produtos derivados, como toucinho e caldo de carne.
·
Peixes com espinha – mariscos e frutos do mar são permitidos.
·
Ovos e laticínios
·
Azeite de oliva.
·
Vinho e bebidas alcoólicas. Na Tradição Eslava, permite-se o consumo de cerveja.
Quanto?
Ao Jejuar, devemos
sempre nos alimentar de modo simples e sem exageros, para evitar a gula. Em dias de Jejum estrito, monges consomem apenas
uma refeição ou duas, em dias que se permite o consumo de vinho e azeite. Em caso de dúvida, fale sempre com seu pai espiritual.
Dispensas
Crianças pequenas,
enfermos, convalescentes, idosos, gestantes e lactantes, bem como pessoas que tenham algum problema de saúde, como diabetes
ou úlcera, por exemplo, estão dispensados do Jejum estrito pela Igreja.
Jejum eucarístico
Para que o Corpo
e o Sangue de Nosso Senhor sejam as primeiras coisas que consumimos no dia da Comunhão, praticamos o chamado Jejum Eucarístico,
que é parte integral da preparação para a recepção da Santa Comunhão. Essa preparação tem início com o Ofício de Vésperas
realizado no Sábado anterior, por volta de 18:00 horas. Após o Ofício, os fiéis devem preparar-se através de Orações, como
as Orações preparatórias para a Comunhão e a leitura de Salmos.
A partir de meia-noite,
devemos nos abster de consumir quaisquer alimentos sólidos ou líquidos até recebermos a Santa Comunhão. Se a Comunhão for
à noite, como ocorre com a Liturgia dos Pré-Santificados na Quaresma, por exemplo, devemos iniciar o Jejum Eucarístico completo
a partir de meio-dia. Alguns fiéis costumam adotar certas práticas pias individuais, como não consumir carne vermelha ou bebidas
alcoólicas desde o dia anterior, e alguns casais casados se abstém de relações sexuais. Essas práticas, porém, não estão prescritas
nos Cânones da Igreja, e jamais devem ser feitas isoladamente, mas sim como parte de um ato de autodisciplina, cujo objetivo
é evitar qualquer coisa que atrapalhe nossa preparação. Em caso de dúvida, sempre consulte seu Pai espiritual.
Jejum da Quaresma
·
Na Quaresma, por ser o período preparatório para a Celebração da Ressurreição
de Nosso Senhor, praticamos o Jejum mais estrito do ano.
·
Na Semana anterior à Quaresma (também chamada de “Semana dos Laticínios”
ou “da Tirofagia”): carnes e derivados estão proibidos, mas permite-se o consumo de ovos e laticínios, mesmo na
quarta e sexta-feira.
·
Primeira semana da Quaresma: não se consome nenhum alimento nos primeiros cinco
dias da Quaresma, exceto por uma refeição diária na quarta e sexta-feira após a Liturgia dos Pré-Santificados, mantendo-se
as restrições usuais. Hoje em dia, essa disciplina é mantida apenas por comunidades monásticas.
·
Dias da semana durante a Quaresma: durante as seis semanas da Quaresma, mantemos
o Jejum estrito, ou seja, não consumimos carnes e derivados, peixes com espinha, ovos, laticínios, vinho e azeite de oliva.
·
Aos Sábados e Domingos, o consumo de vinho e azeite é permitido.
·
Semana Santa: Nesse dia permite-se o consumo de vinho e azeite. Nas comunidades
monásticas, a Refeição da noite da quinta-feira é a última até o dia de Páscoa. Na Sexta-feira Santa praticamos o Jejum mais
estrito do ano, e mesmo aqueles que tiveram alguma dispensa durante o período são encorajados a jejuar neste dia. O Jejum
da Quaresma encerra-se após a Liturgia de Páscoa no Domingo.
Dispensas:
Permite-se o consumo
de vinho, peixe e azeite nas festas da Anunciação e no Domingo de Ramos, bem como nas festas dos principais Santos e do Padroeiro
da paróquia que o fiel freqüenta.
Jejum dos Apóstolos
Tem duração variável
a cada ano, e vai da segunda-feira após o Domingo de Todos os Santos até o dia 28 de junho, véspera da Festa de São Pedro
e São Paulo.
· Segunda, quarta e sexta-feira: Jejum estrito.
· Terças e quintas-feiras: permite-se o consumo de vinho e azeite.
· Sábado e Domingo: permite-se o consumo de vinho, azeite e peixes.
· Jejum da Dormição da Mãe de Deus
· Vai de 1 a 14 de Agosto.
· Segunda a sexta-feira: Jejum estrito
· Sábado e domingo: permite-se o consumo de vinho e azeite.
Advento
Período de preparação
para a Festa da Natividade de Nosso Senhor. Vai de 15 de Novembro até 24 de Dezembro (Véspera de Natal). Divide-se em dois
períodos:
Primeiro período
(15/11 a 19/12)
· Segunda, quarta e sexta-feira: Jejum estrito.
· Terça, Quinta, Sábado e Domingo: permite-se o consumo de vinho, azeite e peixe.
Segundo período
(20/12 a 24/12)
· Segunda a sexta-feira: Jejum estrito.
· Sábado e Domingo: permite-se o consumo de vinho e azeite.
· Outros períodos de Jejum
Também são considerados
dias de Jejum a Véspera da Teofania (05/01), Festa da Exaltação da Santa Cruz (14/07) e decapitação de São João Batista (29/08).
Nesses dias permite-se o consumo de vinho e azeite.
Períodos de dispensa
Nos seguintes períodos não praticamos
jejum em nenhum dia (incluindo quartas e sextas):
· de 25 de dezembro até 04 de janeiro.
· na Semana do Domingo do Fariseu e do Publicano (segunda Semana do Triódion)
· na Semana da Páscoa
· na Semana da Santíssima Trindade (do Domingo de Pentecostes até o Sábado de Todos os Santos)
Quando uma das
Festas de Nosso Senhor e da Mãe de Deus caírem durante um período de Jejum, permite-se o consumo de peixe, vinho e azeite.
Nas festas dos principais Santos, permite-se o consumo de vinho e azeite e também de peixe, se o(a) Santo(a) for o Padroeiro
de sua paróquia.
O jejum dos amigos do Esposo
São Pedro Crisólogo (cerca de 406-450),
Bispo de Ravena, Padre da Igreja
“Porque
é que nós e os Fariseus jejuamos freqüentemente e os teus discípulos não jejuam?” Por quê? Porque, para vós, o Jejum
é uma questão de lei e não de dom espontâneo. Em si mesmo, o Jejum não tem valor, o que conta é o desejo daquele que jejua.
Que proveito pensais tirar, vós que jejuais constrangidos e forçados?
O Jejum é uma
charrua maravilhosa para lavrar o campo da Santidade: revolve os corações, desenraiza o mal, arranca o pecado, enterra o vício,
semeia a Caridade; alimenta a fecundidade e prepara a colheita da inocência. Quanto aos discípulos de Cristo, eles estão postos
mesmo no coração do campo maduro da santidade; recolhem os feixes das virtudes; alimentam-se do Pão da nova colheita; por
isso, não podem praticar jejuns que já não têm valor. “Porque é que os teus discípulos não Jejuam?” O Senhor responde-lhes:
“Os amigos do Esposo poderão Jejuar, enquanto o Esposo está com eles?” Aquele que toma esposa deixa de lado o
Jejum, abandona a austeridade; entrega-se inteiramente à alegria, participa nos banquetes; mostra-se afável, amável e alegre;
faz tudo o que lhe inspira a sua afeição pela noiva. Cristo celebrava nessa altura as suas bodas com a Igreja: por isso, ele
aceitava tomar parte em refeições, não se recusava aos que o convidavam; cheio de benevolência e de amor, mostrava-se humano,
acessível, amável. É que ele queria unir o homem a Deus e fazer dos seus companheiros membros da família Divina.
O Significado da Grande Quaresma
A verdadeira natureza do jejum
"Nós aguardamos,
e finalmente nossas expectativas foram satisfeitas", escreve o Bispo Sérvio Nicolau Velimirovich de Ochrid, descrevendo o
Oficio de Páscoa em Jerusalém. "Quando o Patriarca canta Cristo Ressuscitou! um pesado fardo cai de nossas almas. Nós nos
sentimos como se também tivéssemos Ressuscitado dos mortos. Todos imediatamente, de todas as direções, com o mesmo grito,
ecoam como o barulho de muitas águas. 'Cristo Ressuscitou', cantam os Gregos, os Russos, os Árabes, os Sérvios, os Coptas,
os Armênios, os Etíopes um após o outro, cada um em sua própria língua, em sua própria melodia [...] Saindo do Oficio da madrugada,
nós começamos a considerar tudo na luz da Glória da Ressurreição de Cristo, e tudo parece diferente do que tinha sido ontem;
tudo parece melhor, mais expressivo, mais glorioso. Apenas na Luz da Ressurreição à vida realmente passa a ter significado".
Este sentido de
júbilo da Ressurreição, tão vividamente descrito pelo Bispo Nicolau, forma a base de toda Veneração da Igreja Ortodoxa; é
o único fundamento para a nossa vida e esperança Cristã. Ainda assim, a fim de vivenciarmos o poder completo desta alegria
Pascal, cada um de nós precisa passar por um tempo de preparação. "Nós aguardamos" diz o Bispo "e finalmente nossas expectativas
foram satisfeitas". Sem esta espera, sem esta preparação e expectativa, o profundo sentido da Celebração da Páscoa terá sido
perdido.
É por isso que,
antes da Festa da Páscoa foi desenvolvido um longo período preparatório de arrependimento e Jejum, estendendo-se, no atual
uso, a mais de dez semanas. Inicialmente, vêm vinte e dois dias (quatro Domingos sucessivos) de preparação preliminar; então
seis semanas, ou 40 dias do Grande Jejum da Quaresma; finalmente a Semana Santa. Equilibrando as sete semanas de Quaresma
e Semana Santa, segue-se após a Páscoa um período correspondente de cinqüenta dias de Ação de Graças, concluído com o Pentecostes.
Cada um desses
períodos possui seu próprio livro litúrgico. Para o período da preparação temos o Triódion de Quaresma ou "Livro
das Três Odes". Para o período de ação de graças existe o Pentecostárion ou Triódion Festivo. O Ponto de divisão
dos dois livros é o Ofício de Matinas Pascais no Domingo de Páscoa, como primeiro Ofício do Pentecostárion. A divisão
feita por razões de ordem prática, não deve nos impedir de ver a unidade essencial entre a Crucifixão de Nosso Senhor e Sua
Ressurreição, que juntas formam uma única e indivisível ação. Assim como a Crucifixão e a Ressurreição são uma única ação,
assim também os "três dias Santos" Sexta-Feira Santa, Sábado Santo e Domingo de Páscoa - constituem uma observância Litúrgica
única. Na verdade, a divisão do Triódion e Pentecostárion não se tornou norma antes do século XI; nos manuscritos
antigos eles estão contidos no mesmo Códex.
O que encontramos,
então, neste livro de preparação que denominamos Triódion? Ele pode ser resumidamente descrito como o livro do Jejum.
Como as crianças de Israel comeram o "pão da aflição" (Dn 16, 3), estão os Cristãos preparando-se para a celebração da Nova
Páscoa pela observação do Jejum. Mas o que significa esta palavra "Jejum" (nisteia)? Aqui, o máximo de cuidado é necessário
de modo a preservar o equilíbrio entre a alma e o corpo. O nível exterior do Jejum envolve a abstinência física de comida
e bebida, sem tais abstinências exteriores um Jejum completo e verdadeiro não pode ser mantido. Ainda assim as regras sobre
as refeições e bebida não podem ser tratadas como um fim em si mesmas, pois o jejum ascético possui sempre um propósito interno
e invisível. O homem é uma unidade de corpo e alma, "uma criatura viva moldada de naturezas visível e invisível", nas
palavras do Triódion; e nosso Jejum ascético deve, por isso, envolver ambas as naturezas simultaneamente. A tendência
a superenfatizar as regras externas quanto à comida numa forma jurídica, e a tendência oposta de desprezar estas regras como
ultrapassadas e desnecessárias, são parecidas e ambas deploráveis como uma traição à verdadeira Ortodoxia. Em ambos os casos
o adequado equilíbrio entre o espiritual e o corporal tem sido negligenciado.
A segunda tendência
é, sem dúvida, a mais prevalente nos nossos dias, especialmente no Ocidente. Até o século XIV, a maioria dos Cristãos Ocidentais,
em comum com seus irmãos no Oriente Ortodoxo, abstinham-se não apenas de carne, mas de todo produto animal como: ovos, leite,
manteiga e queijo. No Ocidente e no Oriente envolvia um severo esforço físico. Mas na Cristandade Ocidental há mais de 500
anos, os requisitos físicos do Jejum têm sido sistematicamente reduzidos tornando pouco mais que simbólicos. Quantos, gostar-se-ia
de saber, daqueles que comem panquecas na Terça-Feira Gorda, estão conscientes deste costume consumir os ovos remanescentes
antes de o Jejum começar? Exposto ao secularismo Ocidental, o mundo Ortodoxo nos nossos tempos está também começando a seguir
o mesmo caminho de lassidão.
Uma
razão para esse declínio no Jejum é, certamente, uma atitude herética em face da natureza humana, um falso "espiritualismo",
que rejeita ou ignora o corpo, vendo o homem somente em termos de sua racionalidade. Como resultado, muitos Cristãos contemporâneos
perderam a verdadeira visão do homem como uma unidade integral do visível e do invisível; eles negligenciam o papel positivo
desempenhado pelo corpo na vida espiritual, esquecendo a afirmação de São Paulo: "Seu corpo é o templo do Espírito Santo
[...] glorificai a Deus com seu corpo" (1 Cor 6, 19-20).
Uma outra razão
para o declínio do Jejum entre os Ortodoxos é o argumento, comumente desenvolvido em nossos tempos, de que as regras tradicionais
não são mais possíveis hoje. Essas Regras pressupõem, assim é enfatizado, uma sociedade Cristã precisamente organizada e não-plurarista,
seguindo um estilo de vida agrícola que é agora, cada vez mais, uma coisa do passado. Há um pouco de verdade nisso, mas é
necessário ser dito também que o jejum como tradicionalmente praticado na Igreja tem sido sempre difícil e envolve esforço.
Muitos de nossos contemporâneos estão dispostos ao Jejum por motivos de saúde ou estéticos; não podemos, nós Cristãos, fazer
muito mais por amor ao Reino dos Céus?
Por
que a autonegação, antes aceita com satisfação por muitas gerações de Ortodoxos, deveria mostrar-se hoje um fardo tão intolerável
aos seus descendentes? Uma vez perguntaram a São Serafim de Sarov por que os milagres da graça, tão abundantemente manifestados
no passado, não mais aconteciam no seu tempo, ao que ele respondeu: "Apenas uma coisa está faltando uma firme determinação".
O Objetivo primário
do Jejum é tornar-nos conscientes de nossa dependência de Deus. Se praticada seriamente, a abstinência Quaresmal de comida
particularmente nos dias de abertura envolve uma real medida de fome e, também, um sentimento de cansaço e exaustão física.
O Propósito disto é conduzir-nos de volta a um sentido de quebra interior e contrição; para nos trazer ao ponto onde possamos
avaliar completamente a força da afirmação de Cristo, "Sem Mim, nada podeis fazer" (Jo 15, 5). Se sempre tomarmos nossa
porção habitual de comida e bebida, tornamo-nos superconfiantes em nossas próprias habilidades, adquirindo um falso senso
de autonomia e auto-suficiência. A Observância de um Jejum físico mina esta complacência pecaminosa. Despindo-nos da ilusória
certeza do Fariseu, que jejuava, é verdade, mas não no espírito correto a Abstinência de Quaresma nos dá o Salvífico autodescontentamento
do publicano (Lc 18, 10-13). Tal é a função da fome e do cansaço: tornar-nos "pobres em espírito", conscientes de nosso
desamparo e de nossa dependência da ajuda de Deus.
Ainda assim, falar
apenas destes aspectos de fadiga e fome nos levaria a uma idéia errada. A Abstinência não nos leva apenas a isto, mas
também ao sentido da moderação, vigilância, liberdade e alegria. Mesmo que o Jejum mostre-se debilitante inicialmente, descobrimos
depois que ele possibilita-nos dormir menos, pensar mais claramente e trabalhar mais decididamente. Como muitos médicos reconhecem,
Jejuns periódicos contribuem para a higiene corporal. Ao envolver uma genuína autonegação, o Jejum não visa violentar nosso
corpo mas, antes, restaurar a sua saúde e o seu equilíbrio. A maioria de nós, no mundo Ocidental, come mais do que precisa.
O jejum libera nosso corpo do fardo do peso excessivo e torna-o um parceiro voluntário na tarefa de orar, estar alerta e receptivo
à voz do Espírito.
Percebe-se comumente
que entre os Ortodoxos as palavras "Jejum" e "Abstinência" são usadas de modo intercambiável. Antes do Concílio do Vaticano
II a Igreja Católica Romana fez uma clara distinção entre os dois termos: a Abstinência está relacionada com o tipo de alimento
comido, sem considerar a quantidade; enquanto o Jejum significaria um limite no número de refeições ou na quantidade de comida
a ser consumida. Assim, em certos dias, tanto abstinência como Jejum são exigidos; alternativamente, um pode ser prescrito,
mas não o outro. Na Igreja Ortodoxa uma distinção clara não é feita para os dois termos. Durante a Quaresma há freqüentemente
uma limitação no número de refeições tomadas por dia, mas quando uma refeição é tomada não há restrição na quantidade de comida
permitida. Os Padres da Igreja simplesmente estabelecem, como um princípio norteador, que não devemos comer até a saciedade,
mas sempre levantar da mesa com a sensação de que poderíamos ter comido mais e que estamos, agora, prontos para a oração.
Se, é importante não negligenciarmos os requisitos físicos do Jejum, é ainda mais importante não negligenciarmos seu significado
espiritual. Jejum não é simplesmente uma questão de dieta. É uma experiência moral assim como física.
O Verdadeiro Jejum
tem o sentido de conversão do coração e da vontade; é o retomo a Deus; é o voltar para casa, como o Filho Pródigo voltou para
a casa do Pai. Nas palavras de São João Crisóstomo, significa "não apenas jejum de comida, mas também de pecados". "O
Jejum" ele insiste "deve ser mantido, não apenas pela boca, mas também pelos olhos, ouvidos, pés, mãos e todos os
membros do corpo": o olho tem que se abster de olhares impuros, os ouvidos de maliciosas maledicências, as mãos de
atos de injustiça. É inútil Jejuar de comida, recomenda São Basílio, e ainda assim ceder ao cruel criticismo e à difamação:
"Você não come carne, mas devora o seu irmão". O mesmo ponto de vista é abordado no Triódion, especialmente
durante a primeira Semana da Quaresma:
Enquanto Jejuamos
de comida, vamos nos abster também de toda paixão [...]
Vamos fazer
um Jejum aceitável e agradável ao Senhor:
o verdadeiro Jejum é fugir para longe todo mal,
controlar a língua, reprimir
a ira,
abster-se da luxúria, da difamação,
da falsidade e do perjúrio.
Se renunciarmos a essas coisas,
então
nosso Jejum será verdadeiro e aceitável a Deus.
Vamos manter o Jejum, não apenas pela restrição de comida,
mas nos
tornando estranhos a todas as paixões corporais.
O significado
interior do Jejum é mais bem resumido na tríade: Oração, Jejum e Caridade. Separado da Oração e da recepção dos Santos Sacramentos,
bem como de atos de compaixão, nosso Jejum torna-se farisaico e até mesmo demoníaco. Ele não leva à contrição e ao júbilo,
mas antes, ao orgulho, tensão interior e irritabilidade. A ligação entre Oração e Jejum está corretamente indicada pelo Padre
Alexander Elchaninov. Um crítico do Jejum diz a ele: "Nossos trabalhadores sofrem e se irritam [...] Eu não tenho visto servos
(na Rússia pré-revolucionária) tão mal-humorados como nos últimos dias da Semana Santa. Obviamente, o Jejum tem um efeito
muito nefasto sobre os nervos". A isso o Padre Alexander responde: "Você está certo [...] Se não é acompanhado por Oração
e uma vida espiritual mais intensa, isto leva meramente a elevação do estado de irritabilidade. É natural que os Cristãos
que levam seu jejum a sério e que são forçados a trabalhar duro durante a Quaresma, não sendo permitido a eles irem à Igreja,
fiquem com raiva e irritados".
O Jejum, se não
é acompanhado da oração é inútil e até mesmo prejudicial. Nos Evangelhos o demônio é expulso não só por jejum, mas "por Jejum
e Oração" (Mt 17, 21; Mc 9, 29); e, sobre os primeiros Cristãos não é dito que simplesmente jejuavam, mas que
'"e Jejuavam e Oravam". (At 13, 3; At 14, 23). Tanto no Antigo como no Novo Testamento o Jejum é visto,
não como um fim em si mesmo, mas como uma ajuda para uma mais intensa e vivificante oração, como uma preparação para uma decisiva
ação ou para um encontro com Deus. Assim, os quarenta dias de Jejum de Nosso Senhor no deserto foram à imediata preparação
para Seu ministério público (Mt 4, 1-11). Quando Moisés jejuou no Monte Sinai (Ex 34, 28) e Elias
no Monte Horeb (1Rs 19, 8-12), o jejum estava associado a uma teofania. A mesma conexão entre Jejum e a visão de Deus
é evidente no caso de São Pedro (At 10, 9-17). Ele seguiu para o terraço da casa para orar na sexta Hora,
ficou com fome e desejava comer; estava neste estado quando caiu em transe e escutou a voz divina. Este é sempre o propósito
do Jejum ascético: possibilita-nos, como se lê no Triódion, "conduzir-nos à montanha da oração".
Oração e Jejum
devem ser acompanhados da caridade por amor aos outros, expresso numa forma prática, por obras de misericórdia e perdão. Oito
dias antes do início do jejum da Grande Quaresma, no Domingo do Juízo Final, o Evangelho indicado é a "Parábola da ovelha
e dos cabritos" (Mt 25, 31-46), lembrando-nos que o critério do julgamento futuro não será o rigor de nosso
jejum, mas nossas atitudes de ajuda aos mais necessitados. Nas palavras do Triódion: “Conhecendo os Mandamentos
do Senhor, deixemos ser este nosso caminho de vida”:
Alimentemos
os famintos, demos de beber aos sedentos,
vistamos os nus, acolhamos os estrangeiros,
visitemos os que estão nas prisões
e os enfermos;
então, o Juiz de toda a terra certamente nos dirá:
'venham benditos de meu Pai, herdai o Reino preparado
para vós'".
Esta estância,
e isto pode ser notado de passagem, é um exemplo típico do caráter Evangélico dos livros Litúrgicos Ortodoxos. Em comum com
tantos outros textos no Triódion, é simplesmente uma paráfrase das palavras da Sagrada Escritura. Não é por coincidência
que bem no início da Grande Quaresma, nas Vésperas do Domingo do Perdão há uma Cerimônia especial de mútua Reconciliação:
pois sem Amor para com os outros não pode haver autêntico Jejum. E este Amor pelos outros não deve ser limitado a gestos sentimentais,
mas expresso em atos concretos de Caridade, tal era a convicção da Igreja primitiva. A obra do século II "O Pastor
de Hermas" diz que o dinheiro economizado com o Jejum deve ser doado às viúvas, órfãos e aos pobres. Mas a Caridade significa
mais do que isto: não somente o nosso dinheiro deve ser doado , mas, e sobretudo, nosso tempo; não apenas o que temos, mas
o que somos, isto é, doar uma parte de nós mesmos.
Quando Triódion
faz referência à "Caridade", é sempre neste sentido profundo que esta palavra deve ser tomada. A mera doação de dinheiro pode
ser um substituto e uma evasão, uma maneira de nos protegermos de um envolvimento pessoal mais íntimo com os que se encontram
no infortúnio. Por outro lado, não fazer mais que oferecer palavras tranqüilizadoras de conselho para alguém com uma necessidade
material urgente é igualmente uma fuga de nossas responsabilidades (Tg 2, 16). Tendo em mente a unidade, já
enfatizada, entre o corpo e alma do ser humano, procuramos oferecer, simultaneamente, ajuda no nível material como no espiritual.
A Tradição Litúrgica
Oriental, em comum com a do Ocidente, vale-se do texto de Isaías 58, 3-8 (9) como o texto básico da Quaresma. Lemos
assim no Triódion:
Enquanto Jejuamos
com o corpo, irmãos, Jejuemos também em espírito. Desatemos todo laço de iniqüidade e os nós de todo contato feito pela violência,
desfaçamos todos os acordos injustos; demos pão ao faminto e acolhamos, em nossa casa, o pobre que não tem um teto para abrigá-lo.
Assim possamos receber a grande Misericórdia de Cristo nosso Deus.
Em nosso esforço
de abstinência devemos ter sempre em mente a admoestação de São Paulo para que não condenemos os que Jejuam com menos rigor:
"Que aquele que não come não condene aquele que come" (Rm 14, 3). De igual modo, lembremo-nos da condenação de Cristo
sobre a exposição da Oração, do Jejum e da Caridade (Mt 6, 1-18). Ambas as passagens da Sagrada Escritura são freqüentemente
relembradas no Triódion:
"Considere
bem, minha alma: Jejuas realmente? Então não menosprezes teu próximo. Absténs-Te de comida? Não condenes teu irmão. Vamos,
vamos nos purificar pela Caridade e atos de Misericórdia para com o pobre, sem soar trompetes exibindo nossa Caridade. Não
deixemos nossa mão esquerda saber o que faz a direita; não deixemos à vanglória espalhar os frutos de nossa Caridade; mas,
em segredo, chamemos Àquele que conhece todos os segredos: Pai, perdoa as nossas transgressões, pois tu amas a humanidade".
Para compreendermos
corretamente o texto do Triódion e a espiritualidade nele contida, devemos distinguir que há cinco concepções errôneas
sobre o Jejum de Quaresma das quais devemos nos precaver:
Em primeiro lugar,
o Jejum de Quaresma não é destinado apenas aos monges e monjas, mas a todo o povo Cristão. Nenhum dos Cânones dos Concílios
Ecumênicos ou Locais sugere que o Jejum destina-se exclusivamente aos monges e monjas. Pela virtude do Batismo, todos os Cristãos
casados ou sob Votos monásticos são portadores da Cruz, seguindo o mesmo caminho espiritual.
As condições exteriores
nas quais eles vivem sua Fé Cristã são diversas, mas em sua essência, a vida é uma só. Assim como o monge, por sua autonegação
voluntária, está procurando asseverar a intrínseca bondade e beleza da Criação de Deus, o Cristão que vive a vida conjugal
é também chamado a ser, até certo ponto, um asceta. O Caminho da negação e o Caminho da afirmação são interdependentes e,
todo Cristão é chamado a seguir a ambos simultaneamente.
Em
segundo lugar, o Triódion não deveria ser interpretado erroneamente num sentido pelagiano. Se os textos da Quaresma
nos impelem continuamente a um maior esforço pessoal, isto não quer dizer que nosso progresso depende unicamente do empenho
de nossa própria vontade. Ao contrário, se conseguimos realizar o jejum quaresmal, devemos reconhecer nisto uma dádiva da
graça de Deus. O Grande Cânon de Santo André não deixa dúvida a este respeito: "Eu não tenho compunção nem lágrimas de
arrependimento: dá-me tudo isso, meu Salvador e meu Deus".
Em terceiro lugar,
nosso jejum não pode ser auto-orientado, mas obediente. Quando Jejuamos, não devemos tentar inventar regras especiais para
nós mesmos, mas, buscar seguir, tão fielmente quanto possível, o que a Santa Tradição nos indica. Esta forma aceita, expressando
consciência coletiva do Povo de Deus, possui uma sabedoria oculta e um equilíbrio, não encontrado em engenhosas austeridades
imaginadas pela nossa própria fantasia. Quando parece que as regras tradicionais já não se aplicam a nossa situação pessoal,
devemos procurar o conselho de nosso pai espiritual não para legitimar uma "dispensa", antes, com toda a humildade, descobrir
com a sua ajuda, qual é à vontade de Deus para nós. Se, ao invés da dispensa, desejamos tornar ainda mais rigorosa nossa prática
pessoal de Jejum, não devemos arriscar sem a Benção de nosso pai espiritual. Esta tem sido a prática desde os primeiros séculos
da vida da Igreja:
Abade Antônio do
Egito disse: "Eu conheço monges que sucumbiram depois de muito trabalho e caíram na loucura, por que confiaram em seu próprio
trabalho e negligenciaram o mandamento que diz: 'Pergunte a seu pai, e ele lhe dirá'" (Dt 32,7). Novamente ele diz: "Tanto
quanto possível, para cada passo que um monge dá, para cada gota de água que ele bebe em sua cela, deve consultar o Geronda”.
Estas palavras
se aplicam, não somente aos monges, mas também aos leigos, mesmo que estes possam estar ligados por uma obediência menos rígida
a seu pai espiritual. Se nosso Jejum é orgulhoso e teimoso, assume um caráter diabólico levando-nos, não para mais próximos
de Deus, mas de Satã. Porque o Jejum torna-nos sensíveis às realidades do mundo espiritual e pode ser perigosamente ambivalente:
pois há maus espíritos assim como bons.
Em quarto lugar,
embora possa parecer paradoxal, o período de Quaresma é um tempo, não de tristeza, mas de júbilo. É verdade que o Jejum nos
leva ao arrependimento e à aflição por causa do pecado, mas esta angústia penitente, na clara expressão de São João Clímaco,
é um "sofrimento que gera alegria". O Triódion deliberadamente menciona tanto lágrimas como alegria, numa única
frase:
Conceda-me
lágrimas como que vertidas de um rio dos Céus, ó Cristo, enquanto eu passo por este feliz dia de Jejum.
É notável quão
freqüentemente os temas de alegria e luz sucedem-se nos textos para o primeiro dia da Quaresma:
Com
alegria vamos iniciar o Jejum, sem ficar com um semblante triste ...
Vamos
jovialmente começar o sagrado período de Abstinência ...
Vamos
reluzir com o brilho radiante dos Santos Mandamentos ...
Toda
vida mortal nada mais é do que apenas um dia, então é dito, àqueles que labutam com Amor.
Há quarenta
dias na Quaresma; vamos vivê-los todos com alegria.
O Período da Quaresma,
deve-se notar, não cai no meio do inverno quando o campo está congelado e morto, mas na primavera quando tudo está retornando
à vida. A palavra inglesa "Lent" tinha originalmente o significado de "Primavera"; e em um texto de importância fundamental
do Triódion, de igual modo, descreve a Grande Quaresma como "Primavera".
A Primavera da Quaresma
alvoreceu,
a flor do Arrependimento começou a se abrir.
Ó irmãos, purifiquemo-nos de toda impureza e cantemos ao Doador
da Vida:
Glória a Ti, que amas a humanidade.
A Quaresma não
significa inverno, mas Primavera; nem escuridão, mas Luz, nem morte, mas vida renovada. Certamente ela possui seu aspecto
melancólico, com as repetidas prostrações nos Ofícios feriais, com os paramentos escuros dos Presbíteros, com os hinos cantados
num restrito tom, cheio de compunção. No Império Cristão Bizantino os teatros eram fechados e os espetáculos públicos proibidos
durante a Grande Quaresma; ainda hoje os casamentos são proibidos nas sete Semanas da Quaresma. Ainda assim estes elementos
de Austeridade não deveriam nos cegar para o fato de que a Quaresma não é um fardo, nem uma punição, mas uma dádiva da graça
de Deus: Venham, ó povos, hoje aceitar a graça da Quaresma como uma dádiva de Deus.
Em
quinto lugar, finalmente, nossa Quaresma não implica uma rejeição da Criação de Deus. Como São Paulo insiste, "Nada é impuro
em si mesmo" (Rm 14, 14). Tudo que Deus fez é "muito bom" (Gn 1, 31): Jejuar não é negar esta intrínseca bondade,
mas reafirmá-la. "Ao puro todas as coisas são puras" (Tt 1, 15). E, então, no banquete Messiânico no Reino dos
Céus, não haverá nenhuma necessidade de Jejum e autonegação ascética. Mas, vivendo como nós vivemos num mundo decaído, e sofrendo
como sofremos as conseqüências do pecado, tanto o original como o pessoal, nós não somos (estamos) puros; então, temos necessidade
do Jejum. O mal reside, não nas coisas criadas como tais, mas em nossa atitude em relação a elas, isto é, em nossa vontade.
O propósito do Jejum, então, não é repudiar a Criação Divina, mas purificar nossa vontade. Durante o Jejum, renunciamos aos
nossos impulsos corporais por exemplo, nosso apetite espontâneo para a comida e bebida não por que estes impulsos sejam em
si mesmos maus, mas por que eles foram desregrados pelo pecado e exigem ser purificados através da autodisciplina. Desta maneira,
o Ascetismo é uma luta, não contra o corpo, mas uma luta para o corpo; o objetivo de Jejuar é purgar o corpo de impurezas
estranhas e submetê-lo ao espiritual. Rejeitando o que é pecaminoso em nossa vontade, não destruímos o corpo criado por Deus,
mas restauramos-lhe o seu verdadeiro equilíbrio e liberdade. Uma frase do Padre Sergio Bulgakov diz "Nós matamos a carne
a fim de adquirirmos um corpo".
A Oração e o Jejum
Ao Entrar mais
uma vez no período da Grande Quaresma, é natural que recordemos as características básicas que tem marcado a ascese
dos Cristãos Ortodoxos. Entre estas características, a Oração e o Jejum têm lugar central.
Quando um Ortodoxo
fala de jejum, a oração vem imediatamente a sua mente; quando fala de oração, de igual modo o Jejum vem automaticamente a
sua mente. Isto porque estes dois meios de comunicação com Deus estão intimamente relacionados. É por isso que Cristo, quando
seus Discípulos tentaram em vão libertar um jovem dos espíritos malignos que o atormentavam, apontou este duplo meio,
a Oração e Jejum, como a mais poderosa arma que o ser humano tem contra o diabo. Este tipo de demônio não pode ser expulso
senão por meio da Oração e do Jejum (Mc 9, 29). Contudo, as pessoas cultas e liberais de nosso tempo, que analisam tudo e
tudo desmistificam, não encontram explicações para justificar a prática do Jejum e da Oração.
Perguntam-se qual
o significado de falar com Deus através da Oração, pedindo-lhe ajuda através das petições se Ele, que é Onisciente, tudo sabe.
Da mesma forma se perguntam, o que importaria para Deus o comer este ou aquele alimento, com maior ou menor quantidade, neste
ou naquele dia. Se, a primeira vista, tais questões parecem persuasivas e justas, contudo, os que julgam o Jejum e a Oração
desta maneira não captaram o seu significado mais profundo. Sem dúvida, o significado da Oração não está somente no fato de
comunicar a Deus as necessidades que temos, mas de exercitar nossa humildade diante D'Ele, abrir-lhe nosso coração e colocar
nossa vida em suas mãos; sentir o calor do diálogo com Ele e declarar que nós livremente o reconhecemos como o Senhor de nossa
vida.
O Jejum, tão pouco,
tem valor moral ou espiritual em si mesmo, como se fosse uma dieta alimentar, pois Deus não tem nosso bem estar biológico
como sua medida. É precisamente por esta razão que São Paulo, que viveu tão pouco, mas que tanto sofreu, não cessou de confessar
claramente que não perderemos nada se não comermos nem ganharemos nada se comermos; pois estas coisas não melhoram nossa relação
com Deus. O Jejum, portanto, adquire seu significado moral e espiritual na medida em que chega a ser o meio e o potencial
para uma melhor comunicação com Deus. E, verdadeiramente, mediante o Jejum o ser humano luta para controlar seus desejos e
instintos biológicos irracionais para ser mais livre, para abster-se das atrações do mundo e para chegar a ser mais transparente
e mais receptivo em sua comunicação espiritual. O Jejum e a Oração não são fins em si mesmos, mas meios de comunicação com
Deus, e tal comunicação é nosso objetivo e cume. Um lindo provérbio árabe diz: a alma não quer nem café nem cafeteira, apenas
companhia; o café é apenas um pretexto.
Poderíamos dizer
que o Jejum e a Oração são pretextos sagrados para capacitar o ser humano a romper o monólogo com seu ego tornando-se humilde
e assim poder comunicar-se com Deus e receber assim a Bênção, a Iluminação e a Santificação que esta comunicação nos traz.
Seguramente, as palavras da Escritura sempre terão autoridade eterna: Deus resiste aos soberbos, e aos humildes dá a sua graça.
(Cf. Tg 4, 6).
Por que os Cristãos Ortodoxos ficam
de
pé durante os ofícios litúrgicos?
Ao participar
dos Ofícios Divinos, de um modo similar aos Santos a quem os santos Profetas Isaias, Miquéias, Daniel e São João o Teólogo
viram “de pé nos Céus junto ao Trono de Deus” (Is 6,2-1; Ireis 22,19; Dn 17,10 Ap 7,11), os Cristãos, igualmente,
não devem sentar, mas estar de pé. O Costume dos Cristãos Ortodoxos de permanecer de pé, tanto na Oração pessoal como nos
Ofícios Litúrgicos da Igreja, não só representa sua participação espiritual na Igreja Celestial, senão que também reflete
a prática da Igreja do Antigo Testamento. Na Descrição da dedicação do Templo de Salomão está escrito: “E os levitas
cantores [...], vestidos de fino linho, estavam de pé, com címbalos, saltérios e harpas ao oriente do Altar (II Crônicas 5,12);
e “toda a comunidade de Israel estava de pé”. (II Crônicas 6,3). Outro exemplo bíblico ocorre na descrição do
reinado de Josafat. Para proteger sua pátria dos Amonitas e dos filhos de Moab, “se puseram de pé na Assembléia de Judá
e de Jerusalém, na casa do Senhor, diante do Átrio Novo; [...] e toda Judá estava de pé, diante do Senhor, com seus filhos
e mulheres". (II Crônicas 20,5-13)
Esdras e Neemias,
dizem acerca dos Ofícios dos Judeus depois do cativeiro Babilônico: “Os Sacerdotes vestidos com seus ornamentos estavam
de pé com trombetas, e os Levitas, filhos de Asaf com címbalos, para louvar o Senhor segundo a ordem de Davi, Rei de Israel”
(I Esdras 3, 10); e, “logo estavam de pé os Levitas e clamaram em alta voz, ao Senhor seu Deus” (Neemias 9,4).
Também se diz que os levitas “faziam entender ao povo a Lei e o povo estava de pé em seu lugar”. (Neemias 8,7)
Portanto, Orar
de pé era o costume dos Judeus, como vemos nas Sagradas Escrituras. De um modo similar à Igreja Celestial e à do Antigo Testamento,
os Cristãos Ortodoxos mantém o costume de estar de pé durante os Ofícios Litúrgicos, desde os tempos Apostólicos. Que esta
prática seja correta, fica evidenciado no Novo Testamento, onde encontramos as palavras do Cristo; “Quando estiverdes
de pé orando...” (Mc 11,25) e na Tradição Apostólica que proclama freqüentemente: “Estejamos de pé com reverência”.
De acordo coma
Doutrina Apostólica, todos os Cristãos deviam estar de pé durante a leitura do Evangelho e na Liturgia dos fiéis. Durante
outras leituras e homilias, alguns estavam de pé enquanto outros se sentavam.
Tertuliano, no
ano 190 A.D., menciona a prática de estar de pé, durante os Ofícios: “Alguns, preparando-se para a Oração, se despojam
de suas túnicas, e consideram que não é seu dever estar de pé, mas sentados; não devemos imitar a estes. É particularmente
inapropriado, Rezar sentado entre multidão de Anjos que estão de pé diante do Senhor, com temor e tremor; o sentar-se mostra
que de algum modo oramos contra nossa vontade, descuidadamente e com pressa”.
Santo Agostinho,
discutindo a postura do fiel na Igreja, diz: “Movido por Amor paternal, aconselho aos que estejam doentes das pernas
ou afligidos por outras enfermidades a se sentarem silenciosamente e que escutem atentamente as leituras maiores. Mas, muitos
pensam, incluindo algumas de nossas saudáveis filhas, que se possa fazer isto a todo tempo [...] Pior ainda, se ocupam de
conversas inúteis, não escutando elas mesmas, nem deixando que os outros escutem. Portanto, vos peço, nobres filhas, e as
imploro, com solicitude Paternal, que nenhuma de vós se sente durante as leituras ou homilia, a não ser que uma profunda
debilidade do corpo as force a fazer.
Nas obras dos
Santos Padres se explica que o ter uma atitude reverente durante os Ofícios Litúrgicos é um dever sagrado e importante. Um
destes Escritos diz: “Deve-se estar de pé e não ficar olhando ao redor, nem se encostar à parede ou coluna, nem
mesmo trocar o apoio de seu peso de um pé ao outro”.
O estar de pé
durante os Ofícios da Igreja é a única postura aceitável para os fiéis, tanto para os que Celebram como pra os que oram. Acaso
se senta um Servo diante de seu Senhor? E os fiéis são todos Servos do Senhor, redimidos por seu Sangue. (Lc 17,10; 1Cor 6,
19-20).
De acordo com
as Escrituras, a vida inteira do Cristão Ortodoxo deve ser de contínua retidão espiritual em atenção a Deus. O Apóstolo Paulo
nos diz: “Vigiai, estejais firmes” (Grego = Stekete = estar de Pé) na Fé. (ICor 16, 13). Estejam firmes (Grego
= Stekete = de Pé) portanto, cingidas suas cinturas com a verdade. (Ef 6,14); Estejam firmes (Grego Stekete = de Pé) no Senhor,
amados (Fl 4,1).
Se o Cristão deve
velar de pé por sua Salvação, deve fazê-lo mais ainda nos Ofícios Divinos da Igreja, que servem como expressão e enriquecimento
do serviço pessoal e diário a Deus. Se o espírito de quem serve e ora se esforça para chegar ao Altíssimo, acaso não levantará
o corpo a quem esta unido?
Estar de pé durante
os Ofícios Litúrgicos da Igreja ensina-nos a sermos Servos humildes, prontos, atentos e dispostos a servir a Deus. De um modo
semelhante aos Sacrifícios do Antigo Testamento, os Fiéis, mediante o cansaço do estar de pé, se converte simbolicamente em
oferenda a Deus, como disse o Apóstolo: “Apresentem seus corpos como sacrifícios vivos, santos e agradáveis a Deus que
é vosso Culto razoável. (Rm 12,1)
Por que Católicos Romanos e Ortodoxos Celebram
a Páscoa em Datas Diferentes?
Durante os 300
primeiros anos da Era Cristã, no período entre a morte de Jesus Cristo e o Concílio de Nicéia, o Cristianismo permanecia tão
somente como uma seita do Judaísmo tal como os Fariseus, os Saduceus ou os Essênios (os Cristãos eram
inicialmente conhecidos como "Nazarenos"). Cristãos e Judeus tinham muito em comum. Os Autores do Novo Testamento eram Judeus, bem como os Apóstolos e os primeiros Discípulos.
Ambos os grupos observavam o Shabbat, as mesmas festividades, e todos visitavam a Sinagoga. Até 135 (d.C.), todos os
Líderes da Igreja eram Judeus. Até o Concílio de Nicéia, em 325 (a.D.), os Cristãos e os Judeus celebravam o Pesakh
(Páscoa) no mesmo dia.
No entanto, os
Gentios (Cristãos sem origem judaica) começaram a ver a necessidade de diferenciar o "seu" Pesakh do dos Judeus. As
Igrejas concordaram em mover o dia da Celebração do Pesakh, pois o significado da Celebração da Páscoa Judaica era
diferente da dos Cristãos. O assunto de como estabelecer a data de modo definitivo permaneceu, no entanto, em aberto. Até
que, em 325 (a.D.), no Concilio de Nicéia, foi determinada a nova data.
Outra decisão
deste Concílio de Nicéia consistiu na transferência do dia Santo e de descanso semanal, de Sábado para Domingo. Antes de o
Cristianismo obter o reconhecimento oficial de Império Romano, Judeus e Cristãos tinham Tradições e festejos em comum. Hoje,
nos países Cristãos, o Domingo é considerado dia de descanso, enquanto que, para os Judeus, o Sábado permaneceu sempre o dia
de repouso. Atualmente, em Israel, o fim de Semana inclui a Sexta-Feira e o Sábado. Existe também diferença entre as datas
em que as Igrejas Católico-Romana e as Igrejas Ortodoxas celebram a Páscoa. O Cálculo é baseado, neste caso, em critérios
da astronomia e, não é, como muitos pensam, uma questão simplesmente religiosa.
Desde
os primeiros anos do Cristianismo este assunto foi motivo de divergências, de pesquisa e estudos. No ano 325 (a.D.), o Concílio
de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino, resolveu, por unanimidade, que a Páscoa fosse comemorada por todos os Cristãos
no mesmo dia. As resoluções deste Concílio determinaram que a data da Páscoa fosse comemorada sempre no Domingo seguinte à lua cheia do equinócio
da primavera, isto é, após o dia 21 de março e, portanto, sempre depois da Páscoa Judaica.
O Equinócio é
a época em que o dia e a noite tem a mesma duração em todos os países do mundo. O Patriarca de Alexandria foi incumbido, pelo
referido Concílio, a preparar um Calendário das Páscoas futuras e divulgá-lo para todas as Igrejas Cristãs do mundo, sempre
após a Festa da Epifania. Mesmo após a separação de Roma da Pentarquia Ortodoxa, continuou a Igreja do Ocidente a Celebrar
a Páscoa conforme o Concilio de Nicéia determinava. A Unificação das datas seguiu seu curso normal até 1582 (a.D.), quando
a Igreja Romana adotou o Calendário Gregoriano, elaborado pelo Papa Gregório XIII, que teria constatado "erros" no Ano Solar,
adiantando-o em 13 dias.
A
Igreja Ortodoxa não aceitou a nova data, pois estava em desacordo com o que fora estabelecido no Concílio de Nicéia. A partir
daí, a Páscoa Ortodoxa e Latina (Católico-Romana) passaram a ter datas diferentes, coincidindo apenas de 4 em 4 anos. A Igreja
Ortodoxa, fiel às decisões deste Concílio, continua seguindo este Calendário, observando fiel e firmemente os Cânones deste
Concílio, não aceitando reformas e inovações no que diz respeito à Grande Quaresma e às Festividades Pascais até o dia de
Pentecostes, no 50º dia após a Páscoa.